As exportações brasileiras de ovos seguem em trajetória de forte expansão em 2025, mesmo diante de um cenário internacional mais desafiador. A imposição de uma tarifa de 50% pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros, incluindo itens da avicultura de postura, não impediu que o setor registrasse crescimento expressivo tanto em volume quanto em receita, impulsionado principalmente pela diversificação de destinos e pela entrada em mercados de maior valor agregado.

De acordo com dados divulgados pela Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), o Brasil exportou, em novembro de 2025, um total de 1.893 toneladas de ovos, considerando produtos in natura e processados. O volume representa um aumento de 5,8% em relação ao mesmo mês de 2024. Em termos de faturamento, o desempenho foi ainda mais robusto: a receita alcançou US$ 5,247 milhões, avanço de 32,8% na comparação anual.

O resultado confirma a resiliência do setor de ovos brasileiro, que vem se beneficiando de uma estratégia focada na ampliação de mercados e na redução da dependência de destinos tradicionais. Segundo a ABPA, o atual momento reflete um reposicionamento das exportações nacionais, com maior presença em países que demandam produtos com maior valor agregado, o que tem contribuído para elevar a rentabilidade dos embarques.

Crescimento expressivo no acumulado do ano

Os números consolidados de janeiro a novembro de 2025 reforçam esse cenário positivo. Conforme o Boletim de Conjuntura Agropecuária, divulgado pelo Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento (Seab), o Brasil exportou 38.637 toneladas de ovos nos onze primeiros meses do ano. O volume representa um crescimento expressivo de 135,4% em relação ao mesmo período de 2024.

Em receita cambial, o avanço foi ainda mais significativo. O faturamento totalizou US$ 92,130 milhões, alta de 163,5% na comparação anual. Para os analistas do Deral e da ABPA, os números indicam não apenas aumento na quantidade exportada, mas também melhora no mix de produtos e nos preços médios praticados no mercado internacional.

A ABPA destaca que, diferentemente de ciclos anteriores, o crescimento atual não está concentrado em um único destino. “Os volumes exportados seguem em ritmo elevado frente aos anos anteriores, agora com novos destinos de maior valor agregado, o que vem favorecendo a rentabilidade dos embarques”, avaliou a entidade, em nota.

Japão lidera destinos e compensa retração dos EUA

Entre os principais destinos das exportações brasileiras de ovos em novembro de 2025, o Japão assumiu a liderança, com a importação de 757 toneladas. Na sequência aparecem México, Chile, Emirados Árabes Unidos e Uruguai, mercados que vêm ampliando suas compras e ajudando a compensar a retração observada nos embarques para os Estados Unidos.

A queda nas exportações para o mercado norte-americano está diretamente relacionada à tarifa de 50% anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em 9 de julho de 2025. A medida entrou em vigor em 6 de agosto e atingiu diversos produtos brasileiros, incluindo ovos e derivados da avicultura de postura.

O impacto do chamado “tarifaço” passou a ser sentido de forma mais clara a partir de setembro. Naquele mês, os Estados Unidos importaram apenas 100 toneladas de ovos do Brasil, com desembolso de US$ 80.027. O resultado representou uma queda de 41,2% em volume e de 72% em valor na comparação com setembro de 2024. Em outubro, a retração foi ainda mais acentuada: os embarques somaram apenas 41 toneladas, com receita de US$ 36.535, reduções de 82,9% em volume e 90,9% em faturamento.

Uma análise setorial indicou que a tarifa conseguiu reduzir de forma significativa o volume físico exportado para o mercado norte-americano, mesmo em um momento em que os Estados Unidos enfrentam dificuldades na produção interna.

Gripe aviária nos EUA e mudança no fluxo comercial

Paradoxalmente, a tarifa foi imposta em um contexto no qual os Estados Unidos passaram a importar ovos para atender ao mercado doméstico, afetado por surtos recorrentes de gripe aviária desde 2015. A doença levou à eliminação de milhões de aves ao longo dos anos, comprometendo a oferta interna e elevando os preços no país.

Apesar dessa demanda potencial, a sobretaxa acabou limitando a competitividade do produto brasileiro, abrindo espaço para outros fornecedores ou estimulando a busca por alternativas internas. Ainda assim, a diversificação dos destinos das exportações brasileiras permitiu ao setor manter sua trajetória de crescimento.

Produção e consumo seguem em expansão

As perspectivas para a produção de ovos no Brasil seguem positivas. Segundo projeções da ABPA, a produção nacional deve alcançar até 62,25 bilhões de unidades em 2025, crescimento de 7,9% em relação a 2024. Para 2026, a expectativa é de nova expansão, com produção estimada em até 66,5 bilhões de unidades.

As exportações também devem continuar avançando. A projeção para 2025 é de até 40 mil toneladas embarcadas, o que representa um crescimento de 116,6% frente ao volume exportado em 2024. Para 2026, a expectativa é de até 45 mil toneladas, consolidando o Brasil como um dos principais fornecedores globais de ovos.

No mercado interno, o consumo per capita acompanha esse movimento de expansão. A estimativa é de que o consumo suba de 269 unidades por habitante em 2024 para 287 unidades em 2025, alcançando 307 unidades em 2026. O aumento reflete tanto a valorização do ovo como fonte acessível de proteína quanto mudanças nos hábitos alimentares da população.

Setor demonstra resiliência e adaptação

Mesmo diante de barreiras comerciais e de um cenário internacional marcado por incertezas, o desempenho das exportações de ovos evidencia a capacidade de adaptação do setor avícola brasileiro. A ampliação de mercados, o foco em produtos de maior valor agregado e o crescimento consistente da produção e do consumo interno reforçam a importância estratégica da avicultura de postura para o agronegócio nacional.

O avanço das exportações em 2025 mostra que, apesar das dificuldades impostas por medidas protecionistas, o Brasil segue fortalecendo sua posição no comércio internacional de ovos, com perspectivas positivas para os próximos anos.