A produção brasileira de café em 2025 deve alcançar 56,5 milhões de sacas de 60 quilos, segundo dados do 4º Levantamento de Café da Conab, divulgado nesta quinta-feira (4). Mesmo sendo um ano de bienalidade negativa — fase natural do ciclo produtivo em que as lavouras tendem a produzir menos — o resultado surpreende e consolida a terceira maior safra da série histórica da companhia. O volume é 4,3% superior ao colhido no ano anterior, reforçando a força do Brasil como maior produtor e exportador global da commodity.
O desempenho expressivo da safra 2025 é resultado de uma combinação entre redução da área em produção, estimada em 1,85 milhão de hectares (-1,2%), e avanço significativo da produtividade média nacional, projetada em 30,4 sacas por hectare. Segundo a Conab, o destaque absoluto é a performance do café conilon, que apresentou crescimento recorde e impulsionou a produção nacional mesmo diante das adversidades enfrentadas pelo café arábica.
Conilon bate recorde histórico e alcança 20,8 milhões de sacasO café conilon, que possui menor sensibilidade à bienalidade, foi o grande responsável pela alta na produção brasileira em 2025. A Conab estima uma safra de 20,8 milhões de sacas, o maior volume já registrado na história do país. O avanço é impressionante: 42,1% acima da safra de 2024.
A explicação para esse salto está diretamente ligada às condições climáticas favoráveis. De acordo com o levantamento, “a regularidade climática favoreceu o vigor das plantas e resultou em elevada carga produtiva”. Estados tradicionalmente fortes no conilon apresentaram crescimentos expressivos:
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Espírito Santo – maior produtor do país: 14,2 milhões de sacas, alta de 43,8%
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Bahia: 3,29 milhões de sacas, aumento de 68,7%
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Rondônia: 2,32 milhões de sacas, crescimento de 10,8%
O desempenho robusto do conilon compensou amplamente a retração do arábica, contribuindo para que a safra nacional mantivesse volume elevado mesmo em ano desfavorável para parte das lavouras.
Arábica cai 9,7% com bienalidade negativa e seca prolongadaEnquanto o conilon vive um ciclo excepcional, o café arábica enfrentou os efeitos combinados da bienalidade negativa e da falta de chuvas em importantes regiões produtoras. A produção estimada é de 35,76 milhões de sacas, queda de 9,7% em relação ao ciclo anterior.
A área em produção também encolheu ligeiramente, recuando 1,5%, para 1,49 milhão de hectares. A produtividade média apresentou a maior perda e caiu 8,4%, atingindo 24,1 sacas por hectare.
O impacto mais significativo ocorreu em Minas Gerais, responsável por cerca de 70% do arábica brasileiro. O estado fechou a safra com 25,17 milhões de sacas, redução de 9,2%. A Conab explica que a produção mineira foi prejudicada tanto pela bienalidade negativa quanto por “longo período de seca nos meses que antecederam a floração”, o que comprometeu o pegamento dos frutos.
Em São Paulo, a queda foi ainda maior: 12,9%, com safra estimada em 4,7 milhões de sacas, também devido a estiagem e altas temperaturas. Por outro lado, algumas regiões da Bahia surpreenderam positivamente, registrando crescimento de 2,5% no arábica, impulsionadas especialmente pelo Cerrado baiano, que teve aumento de 18,5%.
Exportações recuam 17,8%, mas faturamento cresce e supera 2024No mercado internacional, o Brasil exportou 34,2 milhões de sacas de café entre janeiro e outubro de 2025, queda de 17,8% em relação ao mesmo período de 2024, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC).
A redução no volume exportado, no entanto, não significa retração nos ganhos. Pelo contrário: o valor exportado alcançou US$ 12,9 bilhões, superando todo o faturamento de 2024. O aumento se deve principalmente à elevação dos preços internacionais, que seguem pressionados pela oferta global limitada.
Segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), mesmo com a expectativa de aumento da produção mundial em 2025/26, o mercado não deve registrar quedas significativas nos preços. Isso porque o “estoque mundial no início da safra 2025/26 é o mais baixo dos últimos 25 anos”, estimado em 21,8 milhões de sacas. Com estoques apertados, qualquer oscilação climática ou problema logístico pode manter a commodity valorizada no mercado externo.
Panorama geral: safra forte, mercado valorizado e perspectivas positivasO balanço da Conab revela um cenário resiliente para o setor cafeeiro brasileiro. A queda no arábica, embora relevante para regiões produtoras tradicionais, foi compensada pelo avanço histórico do conilon e pela produtividade nacional acima da média. O mercado internacional, pressionado por estoques baixos, favorece o produtor brasileiro, que encontra preços firmes mesmo diante da queda nos embarques.
Com novos investimentos em manejo, irrigação e tecnologia — especialmente no Espírito Santo, Bahia e Rondônia — especialistas acreditam que o Brasil poderá ampliar ainda mais sua competitividade nos próximos anos. A safra 2025, mesmo em ano de bienalidade negativa, reforça a capacidade do país de se adaptar, inovar e seguir líder global no mercado de café.