O mercado da soja no Brasil inicia mais uma semana marcado pela combinação de avanço do plantio, variação regional expressiva e comportamento cauteloso dos produtores, especialmente nos estados do Sul e do Centro-Oeste. Dados recentes divulgados pela TF Agroeconômica revelam um cenário contrastante entre as principais regiões produtoras, com destaque para o Paraná, que segue apresentando uma das condições agronômicas mais estáveis do país, enquanto Rio Grande do Sul e Santa Catarina enfrentam incertezas climáticas e comerciais.

O movimento dos preços nos portos e no interior reforça a leitura de um mercado atento, com negociações acontecendo de forma pontual e com forte seletividade por parte dos compradores.

Rio Grande do Sul avança, mas com cautela nas vendas e no plantio

No Rio Grande do Sul, o plantio da soja segue avançando, porém em ritmo mais prudente. Após semanas de instabilidade climática, a janela voltou a permitir evolução nas lavouras, mas o produtor gaúcho mantém cautela tanto no manejo quanto na comercialização. Segundo a TF Agroeconômica, os preços no estado apresentam leve recuperação no interior, mas ainda refletem resistência à liquidez.

Para pagamentos em novembro e entrega em dezembro, os preços no porto foram reportados a R$ 140,00 por saca, enquanto no interior as referências ficaram próximas de:

Cruz Alta, Passo Fundo, Santa Rosa e São Luiz: R$ 132,00/sc (+0,49%)

Panambi: recuo para R$ 121,00/sc, com o mercado de pedra marcando maior resistência local ao ritmo comprador

O Rio Grande do Sul ainda lida com desafios relacionados à irregularidade das chuvas e à expectativa por melhor desempenho do mercado internacional. A retomada do plantio não apagou o clima de apreensão entre produtores, que priorizam posicionamento estratégico e evitam vendas antecipadas mais agressivas.

Santa Catarina enfrenta início de safra desigual e pouca volatilidade nos preços

Santa Catarina vive, talvez, o cenário mais contraditório entre os estados do Sul. O início da safra combina áreas com boa evolução com regiões que ainda sofrem com falhas de umidade ou excesso de precipitação, dependendo do município. Essa dualidade cria incerteza agronômica e reforça a postura cautelosa na comercialização.

O mercado físico do estado apresenta manutenção constante:

Porto de São Francisco do Sul: soja cotada a R$ 140,53/sc

A pouca volatilidade em Santa Catarina é uma característica histórica, mas neste momento ela reforça o comportamento defensivo de compradores e vendedores, que esperam maior clareza sobre o desenvolvimento das lavouras antes de assumir riscos maiores.

Paraná mantém o cenário agronômico mais sólido do Brasil

Se o Sul apresenta contrastes, o Paraná surge como o estado com condições mais favoráveis. Com bom volume de chuvas, plantio consolidado e desempenho agronômico considerado “muito acima da média nacional”, a região mantém estabilidade e sobe degraus importantes no mercado físico.

Segundo informações da TF Agroeconômica:

Paranaguá: R$ 141,88 (+0,12%)

Cascavel: R$ 130,28 (+0,50%)

Maringá: R$ 130,81 (+0,45%)

Ponta Grossa: R$ 133,98 (+0,04%) FOB

Pato Branco: R$ 140,53

Balcão de Ponta Grossa: R$ 120,00/sc

O Paraná se destaca por unir bom desenvolvimento de lavouras, demanda estável e oferta equilibrada, cenário que garante ao estado maior segurança nas operações e menor volatilidade em comparação com outras regiões.

Mato Grosso do Sul opera com equilíbrio e movimentos de alta predominantes

No Mato Grosso do Sul, o mercado de soja apresenta comportamento mais linear, com movimentos pontuais, mas com predominância de altas na semana. A posição geográfica estratégica e o equilíbrio entre oferta e demanda mantêm o estado em ritmo satisfatório tanto no plantio quanto na comercialização.

Os preços foram:

Dourados: R$ 126,63 (+0,53%)

Campo Grande: R$ 126,63 (+0,53%)

Maracaju: R$ 126,63 (+0,53%)

Chapadão do Sul: R$ 123,91 (+0,21%)

Sidrolândia: R$ 126,63 (-0,67%)

Apesar de pequenas variações entre os municípios, os valores se mantêm dentro de uma faixa estável, indicando um mercado que se ajusta de forma orgânica e sem sustos, alinhado ao momento atual da safra.

Mato Grosso: plantio praticamente concluído, mas preocupação com desenvolvimento cresce

Em Mato Grosso, o maior produtor de soja do Brasil, o plantio está praticamente concluído — porém o otimismo não acompanha o ritmo das máquinas. A principal preocupação agora é com o desenvolvimento das lavouras, já que o excesso de calor e a irregularidade das chuvas levantam alertas principalmente nas regiões do médio-norte e sudeste do estado.

O comportamento dos preços reflete esse ambiente de tensão:

Campo Verde: R$ 124,41 (+0,20%)

Lucas do Rio Verde: R$ 117,98 (-0,57%)

Nova Mutum: R$ 117,98 (-0,57%)

Primavera do Leste: R$ 124,41 (+0,20%)

Rondonópolis: R$ 124,41 (+0,20%)

Sorriso: R$ 117,98 (-0,57%)

Os movimentos predominantemente de baixa mostram que o mercado acompanha com cautela os desdobramentos climáticos e sua possível influência sobre a produtividade.

Mercado nacional segue atento, cauteloso e condicionado ao clima

A dinâmica da soja no Brasil, neste momento, é marcada essencialmente por três fatores:

Clima altamente irregular no Sul e Centro-Oeste

Mercado internacional pressionado e sem grandes catalisadores de curto prazo

Produtor mais seletivo, com pouca disposição para travar grandes volumes

Se por um lado o Paraná desponta como exceção com excelente condição agronômica, por outro, estados como Rio Grande do Sul, Santa Catarina e partes de Mato Grosso operam sob forte influência do clima e incertezas que limitam movimentos mais fortes de compra e venda.

O mercado segue aguardando mais clareza sobre o desenvolvimento das lavouras e possíveis ajustes nas cotações internacionais para determinar o ritmo das próximas semanas.