O mercado global de arroz encerrou novembro de 2025 sob forte pressão, refletindo uma combinação de fatores que incluem colheitas em andamento, oferta elevada, negociações mais cautelosas e ajustes sazonais. Segundo o Conselho Internacional de Grãos (IGC), o subíndice global do cereal recuou 1% no mês, reforçando a tendência de enfraquecimento das cotações observada desde o início do segundo semestre. Embora haja sinais pontuais de recuperação em alguns países, o cenário ainda é predominantemente baixista, influenciado por fundamentos consistentes de mercado e por mudanças no panorama internacional da produção e do comércio.

A falta de dados atualizados do órgão agrícola dos Estados Unidos — uma referência mundial para o setor — também trouxe incertezas aos operadores, deixando o mercado mais dependente de informações fragmentadas e relatórios setoriais. No entanto, o comportamento das principais regiões produtoras oferece um diagnóstico claro: a oferta continua ampla, a competição permanece acirrada e os preços seguem sob pressão.

Cotações globais atingem níveis historicamente baixos

De acordo com o IGC, o recuo de 1% do subíndice do arroz em novembro é consequência direta do ritmo mais moderado das negociações e dos efeitos sazonais típicos do período de colheita em vários países asiáticos. Segundo o órgão, o preço internacional do cereal chegou a atingir o menor patamar em oito anos, antes de apresentar leves sinais de recuperação no final do mês.

O relatório também destaca que esse movimento de queda é alinhado a um padrão global influenciado por:

  • Ampliação da oferta global, especialmente na Ásia;

  • Atrasos e ritmos distintos de colheita, que afetam a formação de preços;

  • Forte concorrência entre exportadores, especialmente entre Tailândia, Índia, Vietnã e Paquistão;

  • Efeitos cambiais, que aumentam ou reduzem a competitividade dos países;

  • Demanda internacional mais seletiva, diante de estoques elevados em diversos importadores.

A pressão sobre os preços também é reforçada pelas recentes políticas de exportação adotadas por alguns países, principalmente a Índia, maior exportador global, cujas medidas de controle de vendas externas impactam diretamente o comportamento do mercado mundial.

Tailândia vê preços subirem com atrasos na colheita

Entre as variações regionais, a Tailândia foi um dos únicos países a registrar aumento nas cotações. Relatórios indicam que atrasos na colheita da nova safra — combinados à expectativa de vendas futuras para países asiáticos — impulsionaram o preço do arroz branco com 5% de quebra.

Mesmo com o cenário global pressionado, a capacidade tailandesa de reposicionar o produto e ajustar a oferta disponível favoreceu pontualmente as cotações locais. Exportadores relatam maior demanda prevista para os primeiros meses de 2026, especialmente vinda de mercados tradicionais do Sudeste Asiático e do Oriente Médio.

Índia registra movimentos opostos entre arroz branco e parboilizado

A Índia, maior exportador mundial, apresentou um comportamento distinto. O aumento da oferta da safra kharif pressionou os preços do arroz branco, reforçando a tendência baixista já observada ao longo de 2025. No entanto, o arroz parboilizado teve aumento de preços devido à menor disponibilidade no mercado interno e à intensificação das compras por países vizinhos.

Essa divergência entre os dois tipos de arroz evidencia um ponto importante: mesmo em um mercado global pressionado, segmentos específicos encontram espaço para valorização quando há restrição de oferta ou quando a demanda regional se intensifica.

A Índia permanece protagonista no comércio internacional do arroz, mas sua política de exportações continua sendo um ponto de atenção, pois alterações nas regras — como taxas, cotas e proibições temporárias — tendem a impactar fortemente o mercado global.

Estados Unidos registram alta no arroz de grão médio

Nos Estados Unidos, o contexto foi diferente. Segundo análises setoriais, a demanda firme de compradores do Pacífico Asiático elevou as ofertas do arroz de grão médio para o maior nível em 15 meses. Esse movimento reflete um mercado mais ajustado, especialmente para o segmento que atende países como Japão, Coreia do Sul e outros importadores tradicionais.

Por outro lado, a situação para o arroz de grão longo permanece menos favorável. Produtores relataram que, apesar da confirmação recente de uma venda ao Oriente Médio, os preços no mercado à vista continuam abaixo do necessário para estimular novos negócios. A margem financeira apertada em alguns estados produtores reforça preocupação entre agricultores, que esperam melhor suporte dos contratos futuros e das próximas rodadas de compra internacional.

FAO aponta queda global e cotações seguem pressionadas

A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) também registrou queda global nos preços do arroz em outubro, com destaque para recuos mais acentuados no arroz glutinoso e continuidade da tendência de baixa do arroz Indica, que alcançou o menor nível desde 2019.

Segundo a FAO, três fatores explicam a persistente pressão sobre as cotações:

  1. Ampla oferta internacional, puxada principalmente pela Ásia;

  2. Concorrência agressiva entre exportadores, que têm ajustado preços para garantir participação no mercado;

  3. Oscilações cambiais, que afetam diretamente os custos de exportação e a competitividade global.

Regiões da América Latina, como Caribe, América Central e parte da América do Sul, também relatam ambiente fraco, com compradores segurando negociações à espera de preços ainda menores.

Mercado segue pressionado, mas com sinais localizados de reação

A leitura geral para o mercado do arroz permanece baixista no curto prazo, com preços pressionados pela ampla oferta e pelas características sazonais de fim de ano. No entanto, alguns sinais de recuperação pontual — como observado na Tailândia e nos EUA — podem indicar que, à medida que novas rodadas de compra forem anunciadas e o escoamento das safras se ajustar, o mercado global encontrará maior equilíbrio no início de 2026.

Enquanto isso, a competitividade entre os grandes exportadores continuará moldando o comportamento dos preços, especialmente em um cenário de ampla oferta e demanda internacional seletiva.