O fluxo interestadual de bovinos voltou a ganhar força em outubro de 2025. Segundo a análise semanal do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea), divulgada na segunda-feira (17), Mato Grosso registrou um aumento expressivo no envio de animais para abate fora do estado, alcançando 3,48% do total de bovinos abatidos no período. O volume é significativamente superior ao observado nos demais meses do ano, quando a média ficou abaixo de 1,50%, revelando uma mudança temporária no equilíbrio do mercado pecuário da região.

Este comportamento atípico no fluxo de gado chama atenção de produtores, indústrias frigoríficas e analistas do mercado do boi gordo, que observam uma relação direta entre preço da arroba, oferta de animais terminados e competitividade regional.

Oferta elevada e queda nos preços pressionaram o mercado em MT

De acordo com o Imea, o aumento das remessas interestaduais está diretamente ligado ao enfraquecimento dos preços da arroba em Mato Grosso durante outubro. Esse movimento foi impulsionado pela elevada oferta de animais terminados, especialmente os provenientes do segundo giro de confinamento — período em que o estado tradicionalmente registra maior disponibilidade de gado pronto para abate.

Com essa oferta acima do usual, as indústrias frigoríficas instaladas no estado conseguiram operar com escalas de abate confortáveis, reduzindo a necessidade de competir agressivamente pelos animais. O resultado foi uma desvalorização temporária da arroba, abrindo oportunidades para que estados vizinhos, onde o preço estava mais atrativo, aumentassem a demanda por bovinos mato-grossenses.

Essa conjuntura reforça a importância do fator competitividade regional na precificação da arroba e na própria estratégia de comercialização de pecuaristas e indústrias.

Mato Grosso do Sul lidera recepção do gado mato-grossense

Entre os estados que receberam bovinos de Mato Grosso para abate em outubro, o destaque absoluto foi Mato Grosso do Sul (MS). Segundo o levantamento do Imea, o estado sul-mato-grossense recebeu 17,90 mil cabeças de gado, equivalente a 74,38% de todas as remessas interestaduais realizadas no mês.

A forte presença do MS como destino preferencial não é uma surpresa. O estado possui uma indústria frigorífica consolidada, forte capacidade de abate e frequentemente apresenta cenários de precificação mais competitivos em relação a Mato Grosso. Além disso, a proximidade logística facilita o transporte de animais, reduzindo custos e aumentando a margem dos negócios.

Além do MS, outros estados também absorveram parte do gado mato-grossense, embora em proporções significativamente menores, reforçando a liderança sul-mato-grossense nesse movimento de outubro.

Tendências para os próximos meses: competitividade da arroba deve melhorar em MT

Embora o volume enviado para outros estados em outubro tenha sido expressivo, o Imea projeta uma tendência de redução desse fluxo nos próximos meses. A principal razão está na esperada diminuição da oferta de bovinos terminados provenientes do segundo giro de confinamento — fator que deve naturalmente reduzir a pressão sobre os preços internos da arroba.

Com menor oferta de animais prontos para abate, a expectativa é que os frigoríficos voltem a intensificar a busca por gado dentro do próprio estado, aumentando a competitividade da arroba em Mato Grosso e reduzindo a necessidade de abates interestaduais.

Para pecuaristas, essa possível recuperação pode representar um momento mais favorável para negociação, enquanto para as indústrias o cenário exigirá maior cuidado no planejamento das escalas.

Cenário geral reforça a dinâmica regional do mercado pecuário

Os dados divulgados pelo Imea reforçam a dinâmica cíclica e regionalizada do mercado de bovinos no Brasil. Oscilações na oferta, diferenças nos preços da arroba e variações na capacidade industrial impactam diretamente o fluxo interestadual de animais para abate.

No caso de Mato Grosso, os números de outubro mostram um pico de envios motivado por condições de mercado, mas que tende a se ajustar com a normalização da oferta nas próximas semanas. Para analistas, o movimento revela mais uma vez a sensibilidade do mercado do boi gordo às variações de curto prazo e à necessidade de constante acompanhamento por parte de produtores e indústrias.