A produção nacional de etanol deve passar por transformações importantes no ciclo 2025/26, tanto em volume quanto em composição. De acordo com o Informativo Conjuntural da Emater/RS-Ascar, divulgado nesta quinta-feira (9), o Brasil deve produzir 35,74 bilhões de litros de etanol, somando as origens cana-de-açúcar e milho. Apesar do número expressivo, o volume total representa redução de 3,9% em relação ao ciclo anterior, refletindo as mudanças no perfil produtivo e geográfico do setor de biocombustíveis.

Segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a produção de etanol à base de cana-de-açúcar, incluindo as modalidades anidro (misturado à gasolina) e hidratado (usado diretamente nos veículos flex) deve alcançar 26,76 bilhões de litros, uma queda de 5% em comparação ao ciclo anterior. Já o etanol de milho deve apresentar crescimento de 14%, totalizando 8,97 bilhões de litros, o que representa 25% do total nacional.

Essa expansão reforça o papel do milho na matriz de biocombustíveis brasileira, que vem ganhando espaço nos últimos anos. A diversificação das matérias-primas tem contribuído para reduzir a dependência da cana-de-açúcar, especialmente em regiões onde a cultura do milho é mais adaptada e a infraestrutura de grãos é consolidada.

“A participação do milho no setor tem crescido de forma consistente, ampliando seu peso na matriz de biocombustíveis”, destaca o boletim da Emater.

Centro-Oeste se consolida como nova fronteira do etanol

Os dados mais recentes indicam uma mudança significativa no mapa da produção nacional. Pela primeira vez, o Centro-Oeste ultrapassou o Sudeste e se consolidou como a principal região produtora de etanol do Brasil. O avanço está diretamente ligado à expansão das usinas de etanol de milho em estados como Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás, que têm aproveitado a forte oferta de grãos e a logística favorável.

O Mato Grosso, em especial, lidera com folga a produção de etanol de milho, respondendo por 68% do total nacional. O modelo de produção integrada, que inclui a geração de proteína concentrada (DDG) subproduto utilizado na alimentação animal e óleo de milho, vem se mostrando altamente rentável e sustentável.

Além disso, o Centro-Oeste tem atraído investimentos bilionários no segmento, impulsionando o desenvolvimento econômico e gerando empregos. A presença de grandes cooperativas e o apoio de políticas estaduais de incentivo ao biocombustível têm reforçado a competitividade da região frente ao tradicional polo canavieiro do Sudeste.

São Paulo mantém liderança individual, mas perde espaço relativo

Mesmo com o avanço do Centro-Oeste, o estado de São Paulo ainda mantém o posto de maior produtor individual de etanol do Brasil, com 32% da produção nacional. O estado continua sendo o coração da produção de etanol de cana, apoiado por décadas de estrutura industrial e experiência técnica. No entanto, observa-se uma perda gradual de participação relativa, devido à expansão acelerada de novas usinas em outras regiões.

Paraná aposta em novos investimentos para reverter queda

No Paraná, os números apontam para uma queda de 3% na produção de etanol de cana, estimada em 1,15 bilhão de litros. Já o etanol de milho deve sofrer retração de 50,6%, totalizando 15,58 milhões de litros. Apesar do recuo momentâneo, o estado projeta uma reviravolta com investimentos privados de grande porte.

Uma cooperativa paranaense está aplicando R$ 1,7 bilhão na construção de uma nova planta com capacidade nominal de 280 milhões de litros por ano, além da produção de DDG e óleo de milho. A entrada em operação dessa usina deverá elevar significativamente a participação do Paraná na produção nacional de etanol de milho nos próximos anos.

Atualmente, o estado responde por 3,3% do volume total de etanol produzido no país, mas há expectativa de crescimento expressivo a médio prazo com a consolidação de novos empreendimentos industriais.

Perspectivas e desafios para o ciclo 2025/26

O setor de etanol no Brasil caminha para uma nova fase, marcada pela diversificação das matérias-primas, regionalização da produção e aumento da competitividade tecnológica. A expansão do etanol de milho e os investimentos em coprodutos de alto valor agregado fortalecem o papel do biocombustível como uma das principais fontes de energia renovável do país.

Entretanto, o segmento ainda enfrenta desafios, como oscilações climáticas que afetam a cana-de-açúcar, custos logísticos elevados e volatilidade nos preços do milho e da gasolina.

Mesmo assim, o cenário para 2025/26 demonstra que o Brasil segue firme como potência mundial em biocombustíveis, combinando tradição no etanol de cana com inovação e eficiência no etanol de milho. A consolidação do Centro-Oeste como novo polo produtivo reforça essa tendência, apontando para um futuro em que a sustentabilidade e a tecnologia caminham lado a lado no campo energético brasileiro.