As exportações do agronegócio brasileiro apresentaram um crescimento de 1,5% em agosto de 2025 em relação ao mesmo mês de 2024, mesmo diante das tarifas adicionais de 50% impostas pelos Estados Unidos a partir do dia 6 de agosto. O resultado surpreendeu analistas que esperavam uma queda expressiva nos embarques devido ao impacto das medidas protecionistas anunciadas pelo governo de Donald Trump.
Apesar do avanço global, as vendas para os EUA registraram queda significativa. Em agosto, o volume exportado pelo agro brasileiro para o mercado norte-americano caiu 17,6% na comparação anual e 27,7% em relação a julho de 2025. Produtos como carne bovina, café, madeira, açúcar e pescados foram os mais afetados. Ainda assim, a diversificação dos destinos e a forte demanda de outros países compensaram as perdas.
Peso do mercado americano nas exportações do agroO impacto limitado das tarifas sobre o resultado geral das exportações se explica pelo baixo peso relativo do mercado norte-americano para o agronegócio brasileiro. Em 2024, os EUA representaram apenas 7% do total exportado, equivalente a aproximadamente US$ 11,5 bilhões, enquanto a União Europeia respondeu por 15% e a China por 31%. No total, o Brasil exportou US$ 164,3 bilhões em produtos agro no ano passado.
Entre os principais itens vendidos aos EUA estão:
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Produtos florestais – US$ 3,7 bilhões (2024)
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Café – US$ 2,1 bilhões
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Carne bovina – US$ 1,4 bilhão
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Suco de laranja – US$ 1,05 bilhão
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Açúcar e etanol – US$ 871 milhões
A carne bovina foi um dos setores mais atingidos pelo “tarifaço”. A tarifa aplicada fora da cota subiu de 26,4% para 76,4%, o que derrubou os embarques em 48,7% entre julho e agosto. Na comparação anual, a queda foi ainda mais expressiva, de 51,2%, contrariando o padrão histórico de aumento das exportações no verão americano.
Mesmo assim, no cenário global, a carne bovina brasileira segue em trajetória positiva. Em agosto, o país registrou recorde de exportações do produto e acumula em 2025 um volume 14,4% superior ao de 2024. Países como México, Paraguai, Argentina e Rússia ampliaram significativamente suas compras, indicando uma possível reorganização das indústrias brasileiras para reduzir a dependência do mercado americano.
Café sofre com tarifas e problemas de safraO café brasileiro também foi fortemente impactado. Em agosto, foram exportadas cerca de 315 mil sacas para os EUA, um recuo de 17,5% na comparação anual e 13% em relação a julho. A queda soma-se a um cenário de menor oferta devido a uma safra abaixo do potencial produtivo.
Na União Europeia, outro mercado tradicional do café, a redução foi ainda maior: 30,3% na comparação anual. Entre janeiro e agosto de 2025, o Brasil exportou 149,6 mil toneladas de café, volume 30,3% inferior ao mesmo período do ano passado.
Produtos florestais: celulose cresce, madeira recuaNo segmento florestal, os efeitos das tarifas foram distintos. Como a celulose foi incluída na lista de isenção, os embarques para os EUA cresceram 29% em agosto, enquanto as vendas de madeira caíram 22% no mesmo período.
Globalmente, o Brasil exportou 14,9 milhões de toneladas de celulose entre janeiro e agosto, o maior volume em cinco anos e 15,6% acima de 2024. Já a madeira atingiu apenas 5 milhões de toneladas, o menor resultado desde 2021.
Suco de laranja e açúcar: histórias opostasO setor citrícola brasileiro saiu favorecido pela isenção tarifária. Em agosto, as exportações de suco de laranja para os EUA aumentaram 30,9% em relação a 2024. Já o açúcar enfrentou fortes restrições. Fora da lista de isenção, o produto registrou queda de 92,6% nos embarques anuais e de 79,5% na comparação mensal.
Impacto global e perspectivasEntre janeiro e agosto de 2025, as exportações do agronegócio brasileiro somaram US$ 111,7 bilhões, praticamente estáveis em relação ao mesmo período de 2024 (+0,02%). O desempenho mostra que, embora as tarifas tenham afetado empresas com forte dependência dos EUA, o impacto global foi diluído pela diversificação de mercados e pela robusta demanda internacional.
Especialistas apontam que a continuidade desse cenário dependerá da manutenção da demanda em mercados alternativos e da capacidade das indústrias brasileiras de se adaptarem ao novo cenário comercial. A expectativa é que, em 2025, o agronegócio siga em ritmo aquecido, sustentado por uma combinação de oferta global restrita e forte demanda internacional.
As tarifas adicionais impostas pelos EUA em agosto de 2025 trouxeram desafios para segmentos-chave do agronegócio brasileiro, mas não conseguiram frear o crescimento das exportações totais. A estratégia de diversificação de mercados mostrou-se fundamental para reduzir a vulnerabilidade às medidas protecionistas, garantindo ao Brasil a manutenção de sua posição de destaque no comércio mundial de alimentos, fibras e bioenergia.