O mercado de trigo no Brasil atravessa um momento de forte pressão, marcado pela combinação de safra reduzida e crescimento das importações. Segundo análise da Central Internacional de Análises Econômicas e de Estudos de Mercado Agropecuário (Ceema), referente à semana de 12 a 18 de setembro, os preços do grão seguem em queda nas principais praças do país, refletindo o avanço da colheita e a entrada de produto importado a preços mais competitivos.

No Rio Grande do Sul, o trigo de melhor qualidade foi negociado a R$ 68,00 por saca, enquanto no Paraná os valores oscilaram entre R$ 69,00 e R$ 73,00 por saca, de acordo com os dados divulgados nesta quinta-feira (18). A tendência de baixa preocupa produtores, especialmente diante de uma safra que já se mostra menor em área e produtividade.

Colheita avança no Paraná, mas ritmo é menor que em 2024

O Departamento de Economia Rural (Deral) informou que a colheita no Paraná atingiu 25% da área plantada no início da semana, índice abaixo do registrado no mesmo período de 2024, quando 34% já haviam sido colhidos. Apesar do ritmo mais lento, a qualidade das lavouras ainda é considerada boa: 85% estavam em condições satisfatórias, com 49% em maturação e 31% em frutificação.

No Rio Grande do Sul, segundo a Emater, 15% das lavouras já se encontravam na fase de enchimento de grãos. No entanto, os números reforçam as estimativas de que a produção gaúcha será bem inferior à do ano anterior, impactada pela redução de área plantada e por condições climáticas adversas.

Produção brasileira deve ter o menor volume desde 2020

A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) revisou para baixo sua projeção de produção de trigo no Brasil. O órgão estima agora 7,5 milhões de toneladas, o que representaria o menor volume desde 2020. A área total cultivada foi calculada em 2,45 milhões de hectares, uma queda expressiva de 19,9% em relação a 2024.

Os principais estados produtores apresentaram reduções significativas: o Rio Grande do Sul diminuiu em 13,7% sua área plantada, enquanto o Paraná encolheu 28,2%. Já a consultoria StoneX projeta que a produção final pode ser ainda menor, chegando a apenas 7,3 milhões de toneladas.

Importações podem alcançar 7 milhões de toneladas em 2025

Diante da menor oferta interna, o Brasil vem ampliando sua dependência do trigo importado. Em agosto, o volume de compras externas registrou retração de 9,5% em relação ao mês anterior, totalizando 493,2 mil toneladas. Ainda assim, no acumulado de janeiro a setembro, o país já importou 5,17 milhões de toneladas e a expectativa é de que as compras alcancem até 7 milhões de toneladas em 2025.

Um dos fatores que favorece esse movimento é a valorização do real frente ao dólar, que torna o trigo estrangeiro mais competitivo no mercado brasileiro, pressionando ainda mais os preços internos.

Argentina domina as exportações para o Brasil

Outro ponto de destaque no comércio internacional é a forte concentração das compras brasileiras na Argentina, que aumentaram de 189,5 mil toneladas em julho para 465,6 mil toneladas em agosto, respondendo por quase todo o volume importado no período.

Em contrapartida, países como Estados Unidos, Rússia e Uruguai, que haviam sido fornecedores relevantes em 2024, praticamente desapareceram do mercado em 2025, de acordo com dados da consultoria Safras & Mercado.

Expansão do consumo regional interno

Além das mudanças nos fluxos de importação, o destino interno do trigo também sofreu alterações. Estados como Bahia, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Pará e Espírito Santo ganharam maior participação no recebimento do grão, além de pequenas remessas destinadas a regiões que historicamente tinham baixa relevância nesse mercado.

Essa pulverização mostra como o trigo vem ampliando sua importância para diferentes cadeias produtivas, em especial na indústria de panificação e derivados, que busca alternativas diante da instabilidade dos preços e da oferta.

Cenário de pressão para o produtor brasileiro

O quadro atual evidencia o desafio dos produtores brasileiros, que enfrentam preços em queda, custos de produção elevados e uma concorrência externa cada vez mais forte. Enquanto a safra se mostra limitada em área e produtividade, o trigo importado ganha espaço e mantém o mercado pressionado.

Para os próximos meses, analistas destacam que a trajetória dos preços dependerá não apenas da evolução da colheita nacional, mas também do câmbio e do ritmo de importações, sobretudo da Argentina. Caso o real siga valorizado, a tendência é de que o trigo externo continue a ser preferido pelas indústrias, o que deve prolongar o período de dificuldades para os agricultores locais.