O mercado do boi gordo no Brasil atravessa um dos períodos mais delicados de 2025. A queda nos preços da arroba em importantes praças pecuárias, aliada à forte pressão exercida pelas indústrias frigoríficas, tem acendido o sinal de alerta entre pecuaristas. Mesmo com as exportações de carne bovina em patamares firmes, o mercado físico sofre com o enfraquecimento do consumo doméstico e com os efeitos da valorização do real frente ao dólar.

Analistas já descrevem a situação como “sombria”, pois o descompasso entre demanda externa e consumo interno cria um ambiente de instabilidade que dificulta a formação de preços e compromete a rentabilidade do produtor.

Queda nas praças pecuárias e estratégia dos frigoríficos

De acordo com levantamento da Agrifatto, 8 das 17 praças monitoradas registraram recuo nos preços do boi gordo nesta quarta-feira (17). Entre as regiões mais afetadas estão São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Tocantins e Bahia. Nas demais nove praças, os preços se mantiveram estáveis, sem sinal de recuperação.

A Scot Consultoria informou que, em São Paulo, o mercado iniciou o dia com queda de R$ 3 por arroba em todas as categorias terminadas. Esse movimento não é isolado: trata-se de uma estratégia das indústrias frigoríficas, que operam com escalas de abate alongadas, em alguns casos chegando a até 11 dias de cobertura.

Esse fôlego é sustentado por contratos a termo e pelo fornecimento de animais confinados pelas próprias empresas, o que reduz a urgência na compra de boiadas no mercado físico. O resultado é uma maior pressão sobre os pecuaristas, que acabam sem poder de negociação e precisam aceitar preços mais baixos para não segurar a produção por tempo excessivo.

Câmbio e consumo interno agravam o cenário

Outro ponto crucial para entender a atual conjuntura é o câmbio. A valorização do real frente ao dólar enfraquece a competitividade da carne bovina brasileira no mercado internacional, diminuindo a margem de lucro dos frigoríficos com exportações e abrindo espaço para reduzir o valor pago pela arroba no mercado interno.

No lado do consumo doméstico, a situação também é desafiadora. A segunda quinzena de setembro é historicamente marcada por menor poder de compra do consumidor brasileiro, e neste ano não foi diferente. A carne bovina perde espaço nas mesas das famílias de baixa renda, que optam por proteínas mais acessíveis, como o frango. Segundo o analista Fernando Henrique Iglesias, da Safras & Mercado, essa substituição impacta diretamente a demanda interna, mantendo o mercado em baixa.

Exportações em alta não aliviam pecuaristas

As exportações de carne bovina seguem firmes em 2025, com a China liderando a lista dos principais destinos. No entanto, esse bom desempenho ainda não foi capaz de sustentar os preços no mercado físico brasileiro.

Confira as principais cotações do boi gordo nesta quarta-feira (17):

  • São Paulo: R$ 302,75/@ (ontem: R$ 305,50)

  • Boi comum (SP, Agrifatto): R$ 310/@

  • Boi-China (SP, Agrifatto): R$ 315/@

  • Goiás: R$ 289,29/@ (ontem: R$ 291,43)

  • Minas Gerais: R$ 287,65/@ (ontem: R$ 288,24)

  • Mato Grosso do Sul: R$ 320,34/@ (ontem: R$ 320,55)

  • Mato Grosso: R$ 298,78/@ (ontem: R$ 299,26)

Na média nacional, segundo a Agrifatto, a arroba caiu para R$ 292,95, com destaque para as quedas mais intensas em Pará, Tocantins, Minas e Goiás.

Mercado futuro reflete incertezas

Na B3, o ambiente não é diferente. Os contratos futuros do boi gordo seguem pressionados e refletem a insegurança dos investidores. O vencimento de outubro/25 foi negociado a R$ 306,10/@, registrando queda de 1,35% em relação ao dia anterior.

De acordo com analistas de mercado, a tendência é de que o mercado físico continue pressionado no curto prazo, até que haja recuperação da demanda interna ou uma nova movimentação cambial que favoreça as exportações.

Desafios e perspectivas para o pecuarista

Para o produtor rural, o atual momento é de cautela e resistência. Os custos de produção seguem elevados, sobretudo em função da alimentação do gado em confinamento, e a margem de lucro está cada vez mais comprimida.

Embora as exportações mantenham volumes expressivos, a dependência da China e o consumo doméstico retraído dificultam a formação de preços mais atrativos. A indústria, por sua vez, aproveita a condição favorável para ditar o ritmo das negociações, prolongando o que muitos chamam de “mercado sombrio” do boi gordo.

O setor aguarda sinais de melhora, seja por meio de uma recuperação do poder de compra do consumidor brasileiro ou por mudanças no cenário cambial. Até lá, o caminho para o pecuarista será manter eficiência, reduzir custos onde for possível e atravessar esse momento desafiador.

O mercado do boi gordo em 2025 ilustra o delicado equilíbrio entre forças internas e externas que influenciam a pecuária brasileira. Se, por um lado, as exportações seguem firmes, por outro, a combinação de câmbio desfavorável, consumo enfraquecido e estratégias de frigoríficos coloca os produtores em uma posição de vulnerabilidade.

O futuro próximo deve seguir sob pressão, e a esperança do setor está em variáveis ainda incertas: recuperação da demanda interna e condições cambiais mais favoráveis. Até lá, os pecuaristas continuam enfrentando um dos momentos mais difíceis do mercado nos últimos anos.