As importações brasileiras de trigo alcançaram, em 2025, o maior volume desde 2007, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) analisados pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea). O movimento reforça a forte dependência do país em relação ao mercado externo e evidencia a busca das moageiras nacionais por preços mais competitivos, especialmente em países vizinhos.
Apesar de uma queda registrada em agosto de 2025, quando o Brasil importou 493,23 mil toneladas de trigo, volume 20% inferior ao de julho e 9,5% abaixo do contabilizado em agosto de 2024, o acumulado do ano ainda é expressivo. De janeiro a agosto, o país adquiriu 4,68 milhões de toneladas do cereal, aumento de 2,7% em relação ao mesmo período de 2024.
Nos últimos 12 meses (de setembro de 2024 a agosto de 2025), o total importado chegou a 6,77 milhões de toneladas, representando alta de 13,5% frente ao intervalo anterior. Esses números consolidam 2025 como o ano de maior importação desde 2007, indicando um cenário de forte demanda e preços externos favoráveis.
Preços internacionais tornam importação vantajosaDe acordo com pesquisadores do Cepea, a principal razão para o aumento está nos preços internacionais mais atrativos. Com a competitividade maior do trigo estrangeiro, as moageiras brasileiras intensificaram suas compras, principalmente de fornecedores da América do Sul. A proximidade geográfica desses parceiros comerciais reduz custos logísticos, tornando a operação ainda mais viável.
Além disso, a oferta interna tem enfrentado desafios climáticos em algumas regiões produtoras, o que aumenta a necessidade de complementar a demanda por meio das importações. O cenário reflete, também, a crescente demanda da indústria alimentícia, que depende fortemente do trigo para a produção de farinhas, pães e massas.
Tendência para os próximos mesesEmbora agosto tenha registrado retração nos volumes, especialistas acreditam que o ritmo das importações deve permanecer consistente até o fim do ano. A expectativa é que os moinhos sigam aproveitando os preços externos, ao mesmo tempo em que aguardam a evolução da safra nacional, que pode ajudar a reduzir a dependência externa nos últimos meses de 2025.
Esse equilíbrio entre produção interna e importação será determinante para a formação dos preços do trigo no mercado brasileiro, tanto para os produtores quanto para a indústria e o consumidor final.
Batata mantém preços em baixos patamares no atacadoEnquanto o trigo segue em alta nas estatísticas de importação, o mercado da batata apresenta cenário oposto. De acordo com levantamentos da equipe Hortifrúti/Cepea, os preços da batata ágata especial permanecem baixos. Na última semana, a média registrada foi de R$ 38 por saca de 25 kg no atacado de São Paulo, estável em relação ao período anterior.
Segundo produtores consultados, há um fluxo regular de comercialização, sem indícios de que os agricultores estejam segurando a colheita para tentar melhores preços. A oferta elevada tem sido o principal fator para a manutenção das cotações em patamares reduzidos.
Expectativas para setembroPara setembro, colaboradores do Hortifrúti/Cepea indicam que os preços devem seguir baixos, uma vez que ainda há grande oferta disponível. Contudo, no decorrer do mês, a expectativa é de que ocorra uma desaceleração da safra em Vargem Grande do Sul (SP), o que pode reduzir a pressão sobre os valores.
Já no Sudoeste Paulista, a colheita deve ser retomada a partir de outubro, o que tende a trazer novamente maior disponibilidade ao mercado e pode frear uma possível recuperação de preços.
Panorama geral do agronegócioOs dados de agosto reforçam a diversidade de movimentos dentro do setor agropecuário brasileiro. Enquanto o trigo importado registra números históricos e demonstra a forte ligação do Brasil com o mercado internacional, a batata mostra como a oferta abundante pode manter os preços deprimidos, impactando diretamente produtores e consumidores.
Esse contraste reflete os desafios e oportunidades do agronegócio nacional, que depende tanto das condições climáticas internas quanto do comportamento do comércio global para definir suas tendências.