Uma geada registrada no Cerrado Mineiro no último dia 11 de agosto deve reduzir de forma significativa a próxima safra de café da região. Segundo levantamento divulgado nesta terça-feira (20) pela Expocacer (Cooperativa dos Cafeicultores do Cerrado), a quebra estimada é de 412 mil sacas de 60 kg, o que representa cerca de 5,5% do potencial produtivo da área.

O estudo avaliou quase 13 mil hectares, dos quais 1.173 hectares apresentaram impactos diretos do fenômeno climático. No total, 67 produtores foram afetados, especialmente nos municípios de Patrocínio, maior produtor de café do Brasil, além de Ibiá e Araxá.

Impactos da geada no café do Cerrado

De acordo com a Expocacer, as áreas atingidas apresentaram diferentes níveis de danos: leve, moderado e severo.

  • Dano severo: perda estimada em 90% da produção;

  • Dano moderado: perda de 60%;

  • Dano leve: perda de 30%.

Nas áreas diretamente afetadas, a perda média calculada chega a 55% do potencial produtivo. A cooperativa destacou que novas avaliações ainda serão realizadas para mensurar com mais precisão os impactos em cada hectare.

Gláucio de Castro, presidente da Federação dos Cafeicultores do Cerrado, já havia alertado, um dia após a ocorrência da geada, que os botões florais dos cafezais foram danificados. Isso pode comprometer não apenas a safra de 2025, mas também reduzir o pegamento da florada para 2026, aumentando a preocupação entre os produtores.

Cerrado Mineiro: importância e comparação com outras regiões

O Cerrado Mineiro é reconhecido internacionalmente pela qualidade de seu café arábica e deve colher mais de 6 milhões de sacas em 2025, segundo estimativa da consultoria StoneX. Apesar de ser uma das áreas mais relevantes da cafeicultura brasileira, a região produz menos que o Sul de Minas, responsável por mais de 15 milhões de sacas no mesmo período.

Enquanto o Cerrado foi duramente afetado pela geada de agosto, o Sul de Minas não registrou impactos, segundo os primeiros relatos. Isso reforça a vulnerabilidade do Cerrado a eventos climáticos extremos, que vêm sendo cada vez mais frequentes.

Repercussão no mercado internacional

O impacto da geada no Cerrado Mineiro também refletiu no mercado internacional de café. Na bolsa de Nova York, referência para o café arábica, os preços futuros tiveram valorização após as notícias sobre os danos climáticos. Operadores citaram não apenas a perda produtiva, mas também os baixos estoques certificados na ICE, o que trouxe sustentação adicional às cotações.

Esse movimento reforça como as condições climáticas no Brasil, maior produtor e exportador global de café, exercem influência direta na formação de preços em todo o mundo.

Perspectivas para os produtores

A Expocacer destacou que os números divulgados nesta semana são preliminares e que novas análises em campo devem detalhar a extensão real das perdas. Ainda assim, o levantamento evidencia a fragilidade da produção frente às oscilações climáticas.

A ocorrência de geadas em agosto trouxe incerteza não apenas para a safra de 2025, mas também para o ciclo produtivo seguinte. Isso porque os danos às floradas podem afetar o potencial de frutificação, reduzindo a capacidade de recuperação dos cafezais.

Para os produtores da região, além das perdas financeiras diretas, o desafio será planejar estratégias de manejo para minimizar os efeitos da geada e garantir a sustentabilidade da produção a médio e longo prazo.

A geada que atingiu o Cerrado Mineiro em agosto reforça a necessidade de monitoramento climático constante e investimentos em tecnologias de mitigação para reduzir os impactos de eventos extremos. Com uma perda estimada de 412 mil sacas de café, equivalente a 5,5% da safra da região, o episódio coloca em alerta não apenas os produtores locais, mas também o mercado global da commodity.

O cenário confirma que o clima continua sendo um dos maiores desafios da cafeicultura brasileira, capaz de influenciar preços internacionais e comprometer o futuro de uma das mais importantes cadeias produtivas do agronegócio.