A China consolidou, de forma inédita, sua posição como principal fornecedora de produtos para o Brasil no primeiro semestre de 2025. Segundo dados divulgados pela Secretaria de Comércio Exterior, o gigante asiático respondeu por 26,3% de todas as importações brasileiras entre janeiro e junho, representando um marco histórico na balança comercial do país e evidenciando uma transformação significativa nas dinâmicas do comércio exterior.

Crescimento acelerado das importações chinesas

No período, as compras brasileiras de produtos chineses avançaram 37,2% em relação ao mesmo intervalo de 2024, mais do que o dobro do crescimento geral das importações nacionais, que foi de 16,7%. O movimento foi impulsionado, em grande parte, pela redução de 8,1% nos preços médios dos produtos vindos da China, o que os tornou ainda mais competitivos e atrativos para diferentes setores da economia brasileira.

Especialistas destacam que esse crescimento não é apenas resultado de preços mais baixos, mas também de uma estratégia comercial robusta da China para fortalecer sua presença no Brasil.

Empresas chinesas ampliam presença no Brasil

Segundo Carlos Campos Jr., CEO da Target Trading, companhia com quase três décadas de atuação no comércio exterior, as empresas chinesas estão compreendendo cada vez melhor as demandas do mercado brasileiro.

“As empresas chinesas estão investindo em fábricas, infraestrutura e até mesmo em portos dentro do Brasil. Isso cria uma rede de suporte que garante maior eficiência logística e fortalece a confiança dos empresários brasileiros nos produtos importados”, afirma Campos.

A Target Trading, por exemplo, atua fortemente na importação de autopeças e máquinas de grande porte da China, além de manter centros próprios de manutenção e inspeção. Essa estrutura garante maior controle sobre a qualidade dos equipamentos e aumenta a segurança dos compradores nacionais.

Campos reforça, contudo, a necessidade de cautela:

“É um movimento positivo, mas precisamos evitar uma dependência exagerada de um único parceiro comercial. A diversificação é essencial para garantir a sustentabilidade econômica a longo prazo.”

EUA perdem espaço, mas continuam relevantes

Enquanto a China avança, os Estados Unidos, historicamente o principal fornecedor de produtos para o Brasil vêm perdendo espaço. A participação norte-americana nas importações caiu para 16%, o segundo menor nível dos últimos dez anos.

Apesar da retração, Campos ressalta que os EUA seguem sendo um parceiro comercial relevante. “O Brasil precisa manter diálogo aberto e ampliar suas relações internacionais para equilibrar a presença chinesa e preservar sua autonomia produtiva”, defende.

Desafios e perspectivas para o Brasil

O novo cenário revela que a China não apenas aumentou sua participação no volume de produtos fornecidos, mas também passou a se inserir de maneira estratégica na cadeia de suprimentos brasileira. Essa mudança pode trazer benefícios, como preços mais competitivos, acesso facilitado a tecnologias e maior variedade de insumos.

Entretanto, especialistas alertam que o Brasil precisa encontrar um equilíbrio entre a crescente dependência do mercado chinês e a necessidade de diversificação de parceiros comerciais. Além disso, é fundamental que o país invista no fortalecimento da produção nacional para não comprometer sua autonomia industrial.

A expectativa é que, nos próximos anos, o comércio Brasil-China continue em expansão, acompanhando a tendência global de fortalecimento do gigante asiático como principal player do comércio internacional. Contudo, o grande desafio do governo brasileiro e do setor privado será garantir que essa relação se desenvolva de forma sustentável, evitando vulnerabilidades econômicas.

O avanço chinês nas importações brasileiras representa uma nova fase nas relações comerciais do país, marcada por competitividade, investimentos e integração logística. No entanto, a busca por equilíbrio e diversificação continua sendo crucial para a economia nacional.

Com a China já consolidada como o maior fornecedor do Brasil, a pergunta que fica é: como o país irá administrar essa dependência crescente sem abrir mão da autonomia e da pluralidade de suas relações internacionais?