O cenário agropecuário brasileiro segue sob influência de fatores internos e externos que afetam diretamente as cotações das principais commodities do país. De um lado, o arroz em casca apresenta recuperação nos preços devido à maior procura por parte das indústrias. De outro, o mercado do café enfrenta um momento de forte volatilidade após os Estados Unidos anunciarem o aumento da tarifa de importação sobre o grão brasileiro. As informações são do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), que monitora constantemente as movimentações de preços no setor agrícola.

Arroz: demanda aquecida sustenta preços no Sul

Os preços do arroz em casca seguem firmes no mercado do Rio Grande do Sul, maior estado produtor da cultura no Brasil. De acordo com dados do Cepea, a cotação do grão acumula alta de 2,2% na parcial de julho, completando a terceira semana consecutiva de valorização. Esse movimento positivo acontece após uma queda expressiva de 6% registrada em junho e uma desvalorização de mais de 30% no acumulado do ano.

Segundo os pesquisadores do Cepea, a sustentação nos preços está diretamente ligada ao aumento da presença compradora. Indústrias têm buscado renovar seus estoques, elevando a competitividade nas negociações. Por outro lado, os produtores estão mais retraídos, demonstrando cautela diante do cenário de preços considerados ainda baixos. Essa postura acabou por pressionar as indústrias a oferecer valores maiores para garantir a aquisição da matéria-prima.

Incertezas com a nova safra

Apesar da ligeira recuperação nos preços, os produtores seguem preocupados com a rentabilidade da próxima safra. Os custos de produção continuam elevados, e há uma apreensão crescente quanto à possível elevação no valor dos insumos, especialmente fertilizantes e defensivos agrícolas, por conta da guerra tarifária iniciada pelos Estados Unidos.

A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), em seu relatório mais recente, estimou uma produção de 12,32 milhões de toneladas de arroz para a safra 2024/25, um crescimento de 16,5% em relação à safra anterior. Esse aumento, no entanto, pode não se traduzir em maior rentabilidade caso os preços permaneçam pressionados pelos custos e pela concorrência internacional.

No cenário global, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) reduziu em 0,1% sua previsão para a produção mundial de arroz na temporada 2025/26, totalizando 541,27 milhões de toneladas. A ligeira revisão sinaliza um possível equilíbrio entre oferta e demanda, o que pode impactar as estratégias de comercialização dos países exportadores, inclusive o Brasil.

Café: tarifas americanas agravam volatilidade

Enquanto o arroz encontra sustentação no mercado doméstico, o setor cafeeiro brasileiro enfrenta desafios significativos no cenário internacional. O anúncio do aumento das tarifas de importação dos Estados Unidos para o café brasileiro — de 10% para 50% — trouxe incertezas e instabilidade para os preços da commodity.

De acordo com o Cepea, essa mudança abrupta nas regras comerciais afeta diretamente o escoamento da produção nacional, já que os Estados Unidos são um dos principais destinos do café arábica brasileiro. Atualmente, cerca de 25% do café importado pelos norte-americanos tem origem no Brasil, o que evidencia o peso da medida tarifária para o setor.

Em contraste, países concorrentes como a Colômbia continuam isentos da tarifa, e o Vietnã, maior exportador de robusta, ainda enfrenta uma alíquota inferior, de 20%. A disparidade nas tarifas coloca o café brasileiro em desvantagem competitiva no maior mercado consumidor do mundo.

Realocação difícil e mercado instável

Mesmo com a possibilidade de redirecionar parte da produção para outros mercados, os pesquisadores do Cepea alertam que essa realocação não é simples. A indústria de torrefação dos Estados Unidos é altamente dinâmica e representa uma fatia estratégica para as exportações brasileiras. A perda de competitividade nesse mercado pode ter reflexos em toda a cadeia produtiva do café.

Diante disso, o setor aguarda novos desdobramentos das negociações entre Brasil e Estados Unidos. Até lá, a tendência é de que a volatilidade permaneça nos mercados externos e internos, influenciando tanto os preços quanto as decisões de comercialização dos produtores e exportadores.

Considerações finais

Os recentes acontecimentos reforçam a importância de políticas comerciais estratégicas e de suporte à produção agrícola nacional. O arroz, mesmo com alta recente, ainda preocupa os produtores quanto à rentabilidade, enquanto o café lida com obstáculos comerciais que afetam diretamente sua competitividade internacional.

Para os agentes do setor agropecuário, o momento exige cautela, planejamento e acompanhamento constante dos mercados. As decisões a serem tomadas nos próximos meses podem ser determinantes para o desempenho financeiro das próximas safras.