O governo federal lançou oficialmente nesta terça-feira (1º), no Palácio do Planalto, o Plano Safra Empresarial 2025/26, com recursos totais de R$ 516,2 bilhões destinados ao financiamento da agropecuária empresarial brasileira. Apesar do aumento nominal de 1,5% em comparação aos R$ 508,6 bilhões do ciclo anterior, o novo montante não representa um crescimento real, já que a inflação acumulada no período foi de 5,32%. Ainda assim, o plano traz reforços estratégicos em áreas sensíveis, como o crédito equalizado e o custeio da produção.

Foco em custeio e comercialização diante dos juros elevados

Com a taxa básica de juros (Selic) em 15% ao ano, frente aos 10,5% registrados na época do lançamento do último Plano Safra, o governo optou por concentrar esforços no apoio ao custeio e comercialização. O volume destinado a essas finalidades aumentou de R$ 401,3 bilhões para R$ 414,7 bilhões, enquanto os recursos para investimentos recuaram de R$ 107,3 bilhões para R$ 101,5 bilhões. A decisão reflete a cautela dos produtores rurais, que têm adiado grandes investimentos diante do cenário macroeconômico.

Mesmo com a elevação das taxas de juros nas principais linhas, o governo argumenta que o reajuste ficou abaixo do aumento da Selic, atenuando o impacto sobre o crédito rural. As taxas de juros para custeio foram fixadas em 10% ao ano para médios produtores e 14% para os demais. Já para investimentos, os juros variam entre 8,5% e 13,5%, dependendo da linha de crédito.

Confira as principais taxas:

  • Moderfrota: 13,5%

  • Pronamp: 10%

  • RenovAgro Ambiental: 8,5%

  • PCA até 12 mil t: 8,5%

  • Inovagro (fusão com Moderagro): 12,5%

  • Prodecoop e Procap Agro (Giro): 13,5%

Pronamp ampliado e crédito mais acessível

O Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor Rural (Pronamp) foi reforçado e contará com R$ 69,1 bilhões em crédito, um crescimento de 5,98% em relação ao ciclo anterior. O teto de renda anual para enquadramento no programa também foi ampliado, subindo de R$ 3 milhões para R$ 3,5 milhões, o que deve facilitar o acesso de um número maior de produtores.

Além disso, uma das inovações do plano é a ampliação do acesso ao Funcafé (Fundo de Defesa da Economia Cafeeira), que agora pode ser utilizado por beneficiários do Pronaf e do Pronamp mesmo com contratos ativos pelo Plano Safra.

Planejamento estratégico e foco na sustentabilidade

Segundo fontes do governo, o Plano Safra 2025/26 foi estruturado com base em um planejamento fiscal rigoroso, considerando o atual cenário de restrição orçamentária e elevação da dívida pública. Ainda assim, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva autorizou a ampliação do orçamento destinado à equalização de juros, amparado pela expectativa de uma safra recorde para o próximo ciclo agrícola.

O governo também prorrogou, até 30 de junho de 2026, a redução de 0,5 ponto percentual na taxa de juros para operações de custeio destinadas à produção sustentável. A medida vale tanto para produtores enquadrados no Pronamp quanto para os demais que aplicarem recursos em práticas sustentáveis.

Zarc torna-se obrigatório para o crédito de custeio

Uma mudança significativa é a obrigatoriedade da observância das recomendações do Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc) para operações de custeio agrícola. Anteriormente exigido apenas para contratos de até R$ 200 mil no Pronaf, o Zarc agora se estende a todas as faixas de financiamento, exceto em casos de ausência de zoneamento para a cultura ou município.

A medida visa coibir a liberação de crédito para áreas com alto risco climático, promovendo maior segurança agrícola e redução de perdas.

Flexibilizações e incentivos adicionais

O novo plano permite, ainda, o financiamento de rações, suplementos e medicamentos adquiridos até 180 dias antes da formalização do crédito, o que facilita a gestão de insumos nas propriedades.

Outra novidade importante é a possibilidade de direcionar o crédito de custeio para a produção de sementes e mudas de essências florestais, bem como para o cultivo de plantas utilizadas para cobertura do solo durante a entressafra. Ambas as medidas incentivam a preservação ambiental e práticas agrícolas sustentáveis.

Renegociação de dívidas

Embora não tenha entrado em detalhes, o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) adiantou que o Plano Safra 2025/26 trará medidas específicas para facilitar a renegociação de dívidas, beneficiando produtores que enfrentaram dificuldades em safras anteriores e oferecendo condições mais favoráveis para reorganização financeira.