O mercado pecuário brasileiro vive um momento de forte valorização na categoria de reposição, especialmente no segmento de bezerros. No dia 10 de junho, o preço médio do bezerro CEPEA, com referência no Mato Grosso do Sul, atingiu R$ 2.959,95 por cabeça, a maior cotação diária do ano até agora. O valor histórico reforça a percepção de que o ciclo de alta está apenas começando e levanta uma questão crucial entre os pecuaristas: ainda é hora de investir na reposição?

Abate recorde de fêmeas preocupa e limita oferta futura de bezerros

Um dos fatores que sustentam a atual valorização é o abate recorde de fêmeas. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 49% dos bovinos abatidos no primeiro trimestre de 2025 eram vacas e novilhas. Este é o maior índice da série histórica para o período e sinaliza uma forte preocupação com a oferta futura de bezerros.

Com menos matrizes em reprodução, a produção de bezerros tende a cair nos próximos anos, criando um ambiente de oferta restrita que pode manter os preços em patamares elevados ou até provocar novas altas no médio e longo prazo.

Escassez de boi magro e escalas de abate curtas reforçam cenário de alta

Outro elemento que pressiona os preços da reposição é a escassez de boi magro no mercado. De acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA), mesmo com o aumento da liquidez nas negociações, a oferta de animais para recria e engorda segue bastante limitada.

Essa situação tem obrigado os frigoríficos a operarem com escalas de abate curtas, que atualmente variam entre 4 e 10 dias úteis. Para garantir o fornecimento de matéria-prima, muitas unidades estão sendo obrigadas a reajustar os valores pagos pelo gado pronto para o abate, o que indiretamente reforça a demanda por bezerros.

Exportações aquecidas fortalecem o mercado interno

O cenário externo também contribui para a manutenção da firmeza nos preços. De janeiro a maio de 2025, o Brasil exportou o equivalente a R$ 5,8 bilhões em carne bovina, um crescimento de 22% em comparação com o mesmo período do ano anterior, segundo a Secretaria de Comércio Exterior (Secex).

Essa demanda internacional aquecida tem ajudado a escoar a produção nacional, dando suporte aos preços no mercado interno e reforçando a atratividade para o produtor que pensa em investir na reposição.

Relação de troca ainda favorece o recriador

Mesmo com os preços do bezerro próximos de R$ 3 mil, a relação de troca entre o boi gordo e o bezerro ainda é considerada atrativa por analistas de mercado. Isso significa que, proporcionalmente, o pecuarista consegue adquirir um número relativamente bom de bezerros por boi gordo vendido, o que torna o momento ainda oportuno para a recomposição do rebanho.

Além disso, os preços corrigidos pela inflação ainda estão abaixo do pico histórico registrado em 2021, reforçando a percepção de que há espaço para novas valorizações.

O ciclo de alta está apenas começando?

Historicamente, os ciclos pecuários de valorização tendem a superar os anteriores. Analistas apontam que o movimento atual segue o padrão típico de um novo ciclo, com uma combinação de oferta restrita, demanda aquecida, tanto interna quanto externa, e consumo interno estável.

A tendência é que, caso a escassez de oferta se intensifique nos próximos meses, os preços da reposição e do boi gordo continuem subindo, acompanhando o aumento da competitividade entre os frigoríficos e os exportadores.

A perspectiva de menor oferta de bezerros, somada ao cenário de escalas curtas de abate e à forte demanda internacional, cria um ambiente favorável para a recomposição do rebanho. Os próximos meses prometem ser decisivos para o mercado de reposição no Brasil.