Um novo caso de gripe aviária confirmado em uma granja no município de Montenegro, no Rio Grande do Sul, acendeu um alerta no setor avícola brasileiro. Segundo levantamento preliminar da consultoria Safras & Mercado, a Influenza Aviária de Alta Patogenicidade (IAAP) pode afetar entre 15% e 20% das exportações mensais de carne de frango do Brasil, gerando consequências diretas para o comércio exterior e a cadeia produtiva nacional.

A China, um dos principais destinos da carne de frango brasileira, anunciou a suspensão das importações por 60 dias, medida que deve impactar consideravelmente os embarques do Rio Grande do Sul, estado que lidera as exportações do setor. A interrupção representa um golpe significativo, visto que a China importa mais de 40 mil toneladas de carne de frango por mês, o que equivale a mais de 10% das exportações totais do Brasil.

Exportações do Rio Grande do Sul em risco

O Rio Grande do Sul desempenha um papel estratégico no comércio internacional de proteína animal. Em 2023, o estado exportou carne de frango para 137 países, somando uma receita de US$ 1,45 bilhão. Além disso, liderou as vendas nacionais de carne de peru, movimentando US$ 85,39 milhões no mesmo período. Com o caso confirmado de gripe aviária, a imagem sanitária do estado e a confiança de compradores internacionais ficam comprometidas.

De acordo com especialistas da Safras & Mercado, os prejuízos para o estado serão significativos, não apenas pela suspensão imposta pela China, mas também pelo impacto em outros mercados estratégicos.

Principais destinos afetados

Entre os países que mais importam carne de frango do Brasil, alguns se destacam pelo volume mensal embarcado, e também devem revisar suas compras em função do atual cenário sanitário:
  • Emirados Árabes Unidos: 8,37 mil toneladas/mês
  • Arábia Saudita: 7,6 mil toneladas/mês
  • Japão: 2,16 mil toneladas/mês

Esses países mantêm exigências rigorosas quanto ao status sanitário dos países exportadores. Com a confirmação do foco da doença, há possibilidade de novos embargos, restrições temporárias ou mudanças no padrão de importação, o que pode intensificar ainda mais os efeitos negativos para o setor.

Consequências internas: pressão nos preços e na cadeia produtiva

Com a redução nas exportações, a tendência é que haja um excesso de oferta de carne de frango no mercado interno. Isso pode desencadear uma queda nos preços ao longo de toda a cadeia produtiva, afetando desde os produtores integrados até frigoríficos e o varejo.

O cenário preocupa principalmente os pequenos e médios produtores, que operam com margens apertadas e podem ter dificuldade para absorver os impactos de uma redução repentina nos preços. Segundo analistas, se a suspensão das exportações se prolongar ou se novos casos forem confirmados em outras regiões, o Brasil pode enfrentar uma crise temporária de escoamento da produção, pressionando os estoques e os custos operacionais.

Brasil mantém status de país livre da Influenza Aviária em aves comerciais

Apesar da gravidade da situação, o Brasil ainda mantém o status de país livre da Influenza Aviária em plantéis comerciais, uma vez que o caso registrado em Montenegro foi isolado e rapidamente controlado. O Ministério da Agricultura tem reforçado medidas de biosseguridade, monitoramento sanitário e comunicação com os mercados internacionais para mitigar os efeitos da crise.

No entanto, o episódio expõe a vulnerabilidade do setor frente à ocorrência de surtos, mesmo que pontuais, e reforça a importância de investimentos em vigilância epidemiológica e controle sanitário.

Perspectivas e recuperação

A expectativa é que, superado o período de suspensão e confirmada a inexistência de novos focos, as exportações possam ser retomadas gradualmente. Contudo, especialistas alertam que a reconstrução da confiança dos importadores pode demorar, exigindo esforços diplomáticos, transparência nas informações e ações imediatas de contenção.

A curto prazo, o setor precisará ajustar sua logística, controlar a produção e buscar estratégias de escoamento da carne no mercado interno, talvez até com estímulo ao consumo por meio de preços mais acessíveis ao consumidor final.

O caso de gripe aviária registrado no Rio Grande do Sul evidencia os riscos sanitários que rondam o setor avícola brasileiro, mesmo em um país com histórico de excelência em controle e biossegurança. Com até 20% das exportações de carne de frango ameaçadas, a cadeia produtiva se vê diante de um desafio que exige resposta rápida, articulação institucional e vigilância redobrada. A gestão da crise nos próximos meses será determinante para preservar a competitividade e a reputação internacional da avicultura nacional.