China se tornou o principal destino das exportações de leite e lácteos do Brasil, superando mercados tradicionais como o Oriente Médio e a África. De janeiro a março deste ano, o país asiático, somado a Hong Kong, foi responsável por 15,5% do total exportado pelo Brasil no segmento, com embarques que somaram 1,75 mil toneladas. O crescimento impressiona: aumento de 315,7% em volume e de 581,2% em receita na comparação com o mesmo período de 2024, segundo dados da SECEX/MAPA compilados pela Rural Business.

Esse avanço consolida a presença do Brasil no competitivo mercado chinês de lácteos e abre novas perspectivas para a indústria nacional. O valor movimentado com as exportações para a China totalizou US$ 1,31 milhão, aproximadamente R$ 7,67 milhões, considerando o câmbio médio de R$ 5,857 no período.

Entre os principais produtos embarcados estão o leite em pó integral, soro de leite, manteiga, queijo e leite UHT, evidenciando a diversificação da pauta exportadora brasileira. A conquista acontece em um momento estratégico para o país, que busca ampliar sua participação no mercado global de lácteos.

Exportações brasileiras de leite ganham força

Ao todo, o Brasil exportou cerca de 11,1 mil toneladas de leite e derivados no primeiro bimestre de 2025, volume equivalente a mais de 10 milhões de litros em leite in natura. Os dados da plataforma COMEXSTAT, organizados pelo MilkPoint, revelam uma tendência de crescimento contínuo: foram 4,9 mil toneladas embarcadas em janeiro e 6,2 mil em fevereiro, o que representa uma alta de 27,5% entre os meses.

A receita total gerada com as exportações lácteas no primeiro trimestre chega a aproximadamente US$ 72 milhões, reforçando a importância da demanda externa para o equilíbrio da produção e dos preços no mercado interno.

Fatores que impulsionaram a presença brasileira no mercado chinês

Diversos fatores contribuíram para o avanço do Brasil no setor de exportações de leite para a China. Um dos principais foi a retração dos Estados Unidos no mercado chinês, provocada pela guerra comercial entre os dois países. Tarifas entre 25% e 45% impostas sobre os lácteos norte-americanos reduziram significativamente sua competitividade, abrindo espaço para fornecedores alternativos, como o Brasil.

Além disso, o aumento da produção nacional contribuiu para atender à crescente demanda externa. Em 2024, o Brasil captou 25,38 bilhões de litros de leite, um crescimento de 3,1% em relação a 2023, segundo o IBGE. Esse aumento na captação fortaleceu a capacidade de fornecimento das indústrias exportadoras.

Outro ponto importante foram os avanços nas negociações sanitárias entre Brasil e China. O país asiático habilitou 33 plantas industriais brasileiras para exportação de produtos lácteos como leite em pó, leite UHT e ingredientes derivados, ampliando o acesso do Brasil ao mercado chinês.

Mercado chinês mantém demanda aquecida

Apesar de a China ter atingido 85% de autossuficiência na produção de leite em 2023, a demanda por produtos processados como queijo e manteiga segue elevada. A produção local ainda não consegue suprir o consumo crescente, especialmente em regiões urbanas com padrões alimentares mais ocidentalizados.

Outro fator relevante foi a redução das exportações de leite líquido e soro por parte de grandes fornecedores, como União Europeia e Nova Zelândia, o que abriu novas oportunidades para o Brasil. Em fevereiro de 2025, a China importou 255,5 mil toneladas de lácteos, uma alta de 16% em volume e 20% em valor em relação ao mesmo mês do ano anterior. O soro de leite, inclusive, superou o leite em pó integral em volume, com 58 mil toneladas, crescimento de 52% na comparação anual.

Brasil se consolida como player global no setor leiteiro

Com custos de produção competitivos, infraestrutura industrial em expansão e maior integração ao mercado asiático, o Brasil se consolida como um dos principais candidatos a se tornar fornecedor estratégico de lácteos para a China. A ampliação da presença brasileira nesse mercado não representa apenas um ganho comercial, mas também um novo patamar para a cadeia produtiva do leite no país.

O fortalecimento da relação bilateral pode atrair investimentos para o setor, estimular o desenvolvimento tecnológico, ampliar a renda dos produtores rurais e reduzir a volatilidade de preços no mercado doméstico.

A histórica alta nas exportações de leite para a China em 2025 representa, portanto, uma janela de oportunidade única para o Brasil consolidar sua posição no mercado internacional e garantir maior sustentabilidade e competitividade à sua indústria leiteira.