Nos últimos dias, o mercado pecuário de Minas Gerais foi surpreendido por uma forte desvalorização da arroba do boi gordo. Em apenas cinco dias úteis, a cotação caiu 7,3%, atingindo R$ 285 na sexta-feira (14), o menor patamar desde outubro de 2024. Essa queda brusca contrasta com a estabilidade observada em outras regiões como São Paulo e Goiás, levantando questionamentos sobre os fatores por trás dessa movimentação no estado mineiro.
Motivos da queda no preço da arroba
Segundo Felipe Fabbri, coordenador da equipe de Inteligência de Mercado da Scot Consultoria, um dos principais motivos para a desvalorização da arroba em Minas Gerais foi a suspensão das exportações de carne bovina para a China pelo frigorífico Frisa, localizado em Nanuque, no nordeste do estado. A decisão foi tomada pela Administração-Geral de Aduanas da China (Gacc) no dia 3 de março, afetando também outras unidades no Brasil, como o Bon-Mart Frigoríficos, em Presidente Prudente (SP), e a JBS em Mozarlândia (GO). Além do Brasil, plantas frigoríficas da Argentina, Uruguai e Mongólia também tiveram suas exportações barradas.
Embora o órgão chinês tenha justificado a suspensão por “não conformidades” nos requisitos de registro de estabelecimentos estrangeiros, não houve detalhamento das razões específicas. A restrição imposta à unidade de Mozarlândia também pode ter resultado em um redirecionamento dos abates para Minas Gerais, ampliando a oferta de gado no estado e, consequentemente, pressionando ainda mais os preços.
Além do impacto da suspensão das exportações, Fabbri destaca que a dinâmica da pecuária em Minas Gerais já vinha sofrendo pressões antes mesmo dessas medidas. O estado possui uma forte bacia leiteira, o que resulta em um volume significativo de gado mestiço no mercado. Esse fator, combinado com a maior oferta de animais no início do ano, contribui para a intensificação da queda da arroba.
Perspectivas para o mercado
O Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) afirmou que as unidades frigoríficas afetadas estão tomando providências para reverter a decisão da China e retomar as exportações. Carlos Goulart, secretário de Defesa Agropecuária, destacou que o governo brasileiro segue em diálogo com o setor privado e as autoridades chinesas para resolver a situação o mais rápido possível.
No entanto, a recuperação dos preços da arroba pode depender não apenas da retomada das exportações, mas também do comportamento do mercado interno. De acordo com Fabbri, a volatilidade nos preços da arroba é comum no primeiro semestre do ano, especialmente entre janeiro e março, devido ao descarte sazonal de fêmeas que não emprenharam na estação de monta anterior. Esse fenômeno naturalmente aumenta a oferta de gado no mercado.
Já entre abril e junho, a pecuária entra em um período conhecido como “desova de fim de safra”, quando as pastagens começam a perder qualidade nutricional e os pecuaristas aceleram a venda do gado. Esse aumento de oferta pode continuar pressionando as cotações no curto prazo.
Oferta recorde em 2025?
Apesar das recentes quedas nos preços, a Scot Consultoria não prevê que a oferta de gado em 2025 supere os índices recordes de 2024. No primeiro bimestre deste ano, a demanda por carne bovina, tanto para exportação quanto para o mercado interno, se manteve firme. Prova disso é que o grupo de carnes no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) não registrou quedas significativas.
Embora o mercado esteja pressionado em março, os preços da arroba ainda estão acima do observado no início de 2024, quando a cotação raramente ultrapassava R$ 250. Isso indica que, apesar das oscilações, a pecuária ainda mantém margens relativamente favoráveis.
A recente desvalorização da arroba do boi gordo em Minas Gerais reflete uma combinação de fatores, incluindo a suspensão temporária das exportações para a China e um aumento sazonal da oferta de gado. No curto prazo, a recuperação dos preços dependerá do restabelecimento das exportações e do equilíbrio entre oferta e demanda.
Os pecuaristas devem ficar atentos às movimentações do mercado e às negociações entre Brasil e China. Enquanto isso, o setor segue operando dentro de sua sazonalidade, com perspectivas de uma possível estabilização dos preços ao longo do segundo semestre.