Cecafé alerta para a necessidade de investimentos na infraestrutura portuária para evitar novas perdas

Os embarques de café brasileiro sofreram atrasos expressivos ao longo de 2024, resultando na retenção de 1,826 milhão de sacas nos portos do país sem possibilidade de exportação. Essa paralisação gerou uma perda estimada em R$ 3,4 bilhões em receita cambial, segundo levantamento do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé).

O problema decorreu de frequentes atrasos na escala de navios, rolagens de cargas e falta de infraestrutura adequada nos portos brasileiros, conforme explicou o diretor técnico do Cecafé, Eduardo Heron. Além da perda direta na arrecadação, os exportadores também amargaram prejuízos de R$ 51,5 milhões desde junho devido a custos adicionais de armazenagem, retenção de contêineres (detentions) e antecipação de gates.

Impacto direto na cadeia produtiva do café

O setor de exportação de café é responsável pela consolidação das cargas e envio do grão aos mercados internacionais, mas enfrenta dificuldades crescentes devido ao aumento da demanda por contêineres e à falta de infraestrutura eficiente nos portos brasileiros.

Além das perdas para os exportadores, os cafeicultores brasileiros também são impactados. Segundo Heron, o Brasil é o país que mais repassa o valor FOB da exportação ao produtor, o que significa que qualquer entrave logístico reduz diretamente a renda da cadeia produtiva, afetando especialmente pequenos agricultores da agricultura familiar.

Infraestrutura portuária no limite

Os problemas registrados em 2024 escancaram o esgotamento da capacidade dos portos brasileiros. Para solucionar essa crise, o Cecafé defende investimentos urgentes em infraestrutura, incluindo:
  • Ampliação dos pátios e berços portuários;
  • Melhorias nas rodovias, ferrovias e hidrovias para o transporte do café até os portos;
  • Aprofundamento do calado para permitir a entrada de embarcações maiores.

Com o objetivo de mitigar os impactos e discutir soluções estruturais, o Cecafé tem promovido diálogos com autoridades públicas e entidades do comércio exterior. “Nosso objetivo é garantir que o agronegócio continue gerando divisas para o país, com mais eficiência e competitividade nas exportações”, afirmou Heron.

Na última semana, o Comitê Logístico do Cecafé se reuniu com Beto Mendes, diretor de Operações da Autoridade Portuária de Santos (APS), para tratar dos desafios logísticos. O Porto de Santos responde por 68% das exportações nacionais de café, tornando-se um ponto crítico para a fluidez das cargas.

Entre as medidas em análise pela APS, destacam-se:
  • Construção da terceira via da Rodovia dos Imigrantes, para melhorar o acesso ao porto;
  • Aprofundamento do calado, permitindo a operação de navios de maior porte;
  • Leilão do TECON10, previsto para o segundo semestre, visando ampliar a capacidade de movimentação de contêineres.

Além disso, a APS assumiu as operações do Porto de Itajaí (SC) para aliviar a sobrecarga do Porto de Santos e otimizar a logística portuária.

Atrasos alarmantes no embarque de café

O relatório Detention Zero (DTZ), elaborado pela startup ElloX Digital, revelou que, em dezembro de 2024, 71% dos navios enfrentaram atrasos ou alteração de escalas, prejudicando diretamente os embarques de café.

No Porto de Santos, 132 das 157 embarcações registraram atrasos, impactando 84% dos embarques. O maior tempo de espera chegou a 56 dias, e 40 navios sequer tiveram abertura de gate para carregamento da carga.

Diante desse cenário, o Cecafé alerta que, sem investimentos estruturais imediatos, o Brasil continuará perdendo competitividade no mercado internacional de café, comprometendo sua posição como líder mundial na exportação do grão.