O extremo oeste da Bahia consolidou sua posição como o maior polo de irrigação do Brasil, ultrapassando o Noroeste de Minas Gerais, que liderava o ranking nacional. Segundo dados divulgados pela Embrapa Milho e Sorgo, com base em informações coletadas até outubro de 2024, a área total irrigada por pivôs centrais no país cresceu quase 15% desde 2022, atingindo 2,2 milhões de hectares. Essa expansão representa um aumento de 300 mil hectares em relação ao último levantamento, realizado pela Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) e pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).

Crescimento Impulsionado por Infraestrutura e Recursos Naturais

De acordo com a pesquisa, o Brasil possui atualmente 33.846 pivôs centrais em operação, responsáveis por irrigar 2.200.960 hectares. O acréscimo de 140.842 hectares e 3.807 novos equipamentos destaca a evolução do setor, principalmente em regiões como o oeste baiano, que utiliza recursos hídricos do Aquífero Urucuia e técnicas avançadas de armazenamento em tanques de geomembrana.

São Desidério, na Bahia, é agora o município com maior área irrigada do país, totalizando 91.687 hectares. Outros municípios que se destacam incluem Paracatu (MG), com 88.889 hectares, e Unaí (MG), com 81.246 hectares. Em Goiás, Cristalina ocupa o quarto lugar, com 69.579 hectares, mas o pesquisador Daniel Guimarães, da área de Agrometeorologia da Embrapa, prevê que Barreiras (BA), com 60.919 hectares, poderá superar Cristalina em breve.

Bahia em Ascensão no Cenário Nacional

Enquanto Minas Gerais ainda detém a maior área irrigada por pivôs centrais, com 637 mil hectares, a Bahia avança rapidamente e ocupa a segunda posição, com 404 mil hectares, superando Goiás. Esse progresso reflete a combinação de fatores como topografia favorável, investimentos em infraestrutura e disponibilidade hídrica, que têm impulsionado a expansão da irrigação no estado.

O Cerrado brasileiro concentra mais de 70% dos equipamentos de irrigação, consolidando-se como o bioma mais irrigado do país. Por outro lado, o Pantanal é o único bioma que ainda não registra o uso de pivôs centrais, segundo o levantamento.

Impactos e Sustentabilidade da Irrigação

Embora a irrigação ofereça vantagens como aumento da produtividade agrícola e maior estabilidade de produção, ela também apresenta desafios significativos. “A expansão da agricultura irrigada é fundamental para reduzir a pressão sobre as fronteiras agrícolas e garantir a produção na entressafra, mas o consumo intensivo de água exige uma gestão sustentável dos recursos hídricos”, explica Guimarães.

O Brasil possui cerca de 12% das águas superficiais do planeta e as maiores reservas de água subterrânea, mas ainda utiliza apenas 2,6% da área irrigada global. Comparativamente, a área irrigada brasileira, de cerca de 9,2 milhões de hectares (incluindo todos os sistemas de irrigação), é inferior à de países como Irã e Paquistão e muito menor que as áreas irrigadas da China, Índia e Estados Unidos.

A maior parte da agricultura brasileira ainda depende das chuvas, o que torna o setor vulnerável a eventos climáticos extremos, como estiagens prolongadas e ondas de calor. “Esses fatores têm impulsionado a adoção da irrigação como estratégia para estabilizar a produção e minimizar os impactos das variações climáticas”, ressalta o pesquisador.

Perspectivas para o Futuro

A Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) monitora continuamente os recursos hídricos utilizados pela agricultura irrigada, especialmente nas culturas de arroz e cana-de-açúcar. A tendência de crescimento da irrigação por pivôs centrais é evidente, com dados sendo coletados e analisados desde 1985 por meio de parcerias entre a ANA, Embrapa e outras instituições.

A expansão da irrigação no Brasil é um reflexo direto do aumento da demanda por alimentos e da necessidade de otimizar o uso da terra e da água. “O crescimento sustentável do setor depende de investimentos em tecnologias que aumentem a eficiência do uso da água e da implementação de políticas públicas que promovam o equilíbrio entre a produção agrícola e a conservação dos recursos naturais”, conclui Guimarães.

Com o oeste baiano assumindo a liderança nacional em irrigação, o Brasil avança no fortalecimento de sua posição como potência agrícola global, enquanto busca equilibrar os desafios ambientais e econômicos do setor.