A infraestrutura portuária brasileira enfrenta uma situação crítica que pode comprometer o crescimento das exportações do agronegócio. Um estudo da consultoria especializada em infraestrutura Macroinfra revela que os terminais graneleiros do país estão próximos da capacidade máxima de operação, o que representa um gargalo logístico iminente.
Atualmente, os terminais portuários dedicados a granéis agrícolas, como soja, milho e trigo, operam com 91% de sua capacidade, ultrapassando o limite de segurança de 85%. Essa condição coloca em risco a exportação de commodities, especialmente com o aumento previsto na produção de grãos nos próximos anos.
Aumento da produção e infraestrutura insuficiente
De acordo com o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), a produção de grãos no Brasil deve crescer 27% até 2028, alcançando 379 milhões de toneladas. No entanto, a capacidade portuária instalada de 234 milhões de toneladas em 2022 será insuficiente para atender à demanda projetada de exportação, que chegará a 238,9 milhões de toneladas no mesmo período.
“Estamos em um pré-gargalo. Se novos terminais não forem integrados à matriz portuária brasileira, até a safra 2027/28 já estaremos com 100% da capacidade tomada”, alerta Olivier Girard, sócio-diretor da Macroinfra.
Dependência rodoviária agrava custos e limita eficiência
Outro fator crítico identificado no estudo é a forte dependência do transporte rodoviário para escoar a produção do interior até os portos. Essa limitação aumenta os custos logísticos e prejudica a eficiência, sobretudo em regiões mais distantes do eixo Sul-Sudeste, que concentra 72,5% da capacidade portuária do país.
Arco Norte: solução estratégica para descongestionar portos
A Macroinfra destaca o potencial estratégico do Arco Norte, região que abrange estados como Pará, Rondônia, Amazonas, Amapá e Maranhão. Com investimentos em infraestrutura portuária, essa região pode se tornar um novo polo logístico, ajudando a descongestionar os portos do Sul e Sudeste.
“A maior parte da capacidade está no Sul e Sudeste, mas o crescimento da produção e das exportações se dará cada vez mais no Arco Norte”, afirma Girard. Projetos para ampliar a infraestrutura portuária poderiam adicionar 173,5 milhões de toneladas à capacidade nacional, aliviando o sistema atual e atendendo à demanda futura.
Diversificação de modais: uma prioridade
O estudo reforça a necessidade de diversificar os modais de transporte, reduzindo a dependência das rodovias. A integração de ferrovias e hidrovias à cadeia logística do agronegócio é fundamental para aumentar a eficiência e reduzir custos, garantindo maior competitividade para o Brasil no mercado internacional.
Ação coordenada entre governo e iniciativa privada
A solução para evitar o colapso logístico exige uma ação coordenada entre governo e iniciativa privada. Projetos de ampliação portuária e diversificação de modais demandam investimentos significativos e planejamento estratégico.
A consultoria destaca que a competitividade do agronegócio brasileiro, responsável por 7,8% das exportações globais de grãos, depende de medidas urgentes. Sem os investimentos necessários, o Brasil, maior produtor mundial de soja, pode enfrentar sérias dificuldades para sustentar seu protagonismo no comércio internacional.
O estudo da Macroinfra, que utilizou dados da Antaq, IBGE e ANTT, evidencia os desafios logísticos que o agronegócio brasileiro enfrentará caso não sejam realizadas melhorias estruturais nos portos e na cadeia de transporte. Para manter sua posição de liderança no mercado global de commodities, o Brasil precisa agir rapidamente, investindo em infraestrutura portuária e integrando modais eficientes.
A capacidade portuária no limite não é apenas um problema logístico, mas uma ameaça ao crescimento econômico e à competitividade internacional do agronegócio brasileiro.