Nesta terça-feira (3), o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) realizou uma série de ações no sul do Rio Grande do Sul, que incluem a invasão de duas propriedades rurais tradicionais e a ocupação do pátio da sede do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) em Porto Alegre. As invasões afetam diretamente produtores locais e reacendem debates sobre reforma agrária e direito à propriedade.

Invasão à Cabanha Santa Angélica

Um dos alvos das ações do MST foi a histórica Cabanha Santa Angélica, localizada no município de Pedras Altas. Fundada em 1870, a fazenda é referência na criação de cavalos da raça crioula, bovinos das raças hereford e braford, além de ovinos romney marsh e gado leiteiro.

De acordo com o proprietário Ramiro Costa, o grupo montou acampamento no local no início da manhã e permanece na propriedade. Até o momento, os responsáveis pela fazenda estão se deslocando para acompanhar a situação, mas ainda não há informações detalhadas sobre possíveis danos ou negociações em andamento.

A escolha da Cabanha Santa Angélica para a ação reflete sua relevância histórica e produtiva na região. Com sua tradição centenária, a fazenda se destaca como um símbolo do agronegócio no estado, o que torna o episódio ainda mais significativo no contexto do debate sobre o uso e redistribuição de terras no Brasil.

Segunda invasão no mesmo dia

Outra propriedade rural, localizada na divisa entre Hulha Negra e Pedras Altas, também foi invadida pelo MST nesta terça-feira. Trata-se da Fazenda Nova, conhecida pela produção de grãos e gado de corte. Segundo informações de produtores locais, cerca de 200 integrantes do movimento ocuparam a área.

A ação faz parte de uma mobilização maior organizada por membros do acampamento Sebastião Sales, situado em Hulha Negra. Até o momento, representantes da Fazenda Nova não se manifestaram publicamente sobre o ocorrido, mas produtores da região demonstram preocupação com possíveis impactos econômicos e estruturais.

Ocupação no Incra em Porto Alegre

Além das invasões rurais, o MST promoveu uma ocupação no pátio do Incra, em Porto Alegre, com a presença de aproximadamente 200 manifestantes. Apesar da mobilização, o órgão informou que, até o momento, não recebeu uma pauta oficial de reivindicações. O expediente na sede foi mantido, e uma audiência entre os manifestantes e representantes do Incra está prevista para ocorrer ainda hoje.

O MST não detalhou os objetivos específicos da ação, mas a mobilização no Incra costuma estar relacionada a demandas por aceleração de processos de reforma agrária e regularização fundiária.

Impactos e reações

As invasões promovidas pelo MST reacendem debates sobre a relação entre movimentos sociais e o direito à propriedade privada. Enquanto o MST defende as ações como uma forma de pressionar pela redistribuição de terras improdutivas, produtores rurais e representantes do agronegócio denunciam os atos como ilegais e prejudiciais à economia local.

No caso das propriedades invadidas no sul do Rio Grande do Sul, há uma preocupação adicional devido à importância das fazendas para a produção agrícola e pecuária na região. A Cabanha Santa Angélica, por exemplo, desempenha um papel relevante na exportação de genética animal, enquanto a Fazenda Nova contribui para o abastecimento de grãos e carne bovina.

Organizações ligadas ao setor rural pedem uma resposta rápida das autoridades para garantir a integridade das propriedades e evitar conflitos. Ao mesmo tempo, movimentos sociais pressionam o governo federal a priorizar políticas de reforma agrária e inclusão social no campo.

Contexto e desdobramentos

O MST é conhecido por realizar mobilizações em datas estratégicas para chamar a atenção do público e das autoridades para suas demandas. A ocupação do Incra e as invasões às propriedades rurais sugerem uma tentativa de intensificar a discussão sobre a reforma agrária em um momento de aumento das tensões entre movimentos sociais e o setor do agronegócio.

Até o momento, não houve relato de confrontos violentos nas áreas invadidas, mas a situação permanece tensa. A audiência com o Incra poderá ser um ponto de partida para negociações, mas produtores locais e associações do setor cobram ações mais efetivas para proteger as propriedades e garantir a segurança jurídica no campo.

As próximas horas serão decisivas para determinar os rumos desse impasse. Enquanto isso, a região do sul do Rio Grande do Sul segue acompanhando atentamente os desdobramentos, que podem ter impacto significativo na dinâmica do setor agropecuário local e nas discussões sobre reforma agrária no Brasil.