No primeiro trimestre de 2024, o agronegócio brasileiro registrou um crescimento expressivo nos pedidos de recuperação judicial realizados por produtores rurais que atuam como pessoa física. Um levantamento inédito aponta que foram feitas 106 solicitações de recuperação judicial, marcando um aumento de 523% em comparação ao mesmo período de 2023. Esse levantamento destaca a situação econômica de produtores rurais que enfrentam dificuldades para manter a estabilidade financeira de suas operações, embora especialistas acreditem que o setor, como um todo, ainda não está em crise.
Um Cenário de Crescimento de Pedidos, mas Sem Crise Setorial
Apesar do aumento significativo, o número de pedidos ainda não indica uma crise setorial. A maior parte dos proprietários rurais segue em operação normal, com pedidos de recuperação judicial sendo utilizados por aqueles que realmente precisam restabelecer sua saúde financeira. Especialistas do setor ressaltam que, para aqueles que buscam recuperação, alternativas como a renegociação de dívidas ou soluções inovadoras, como o Fiagro Reorg, são opções mais amigáveis e eficazes para retomar a estabilidade financeira.
Ainda assim, o crescimento expressivo dos pedidos de recuperação judicial alerta para a necessidade de uma análise preventiva no setor, com foco em planejamento financeiro e monitoramento de crédito. Medidas preventivas podem evitar o uso desse recurso extremo, garantindo que tanto credores quanto proprietários tenham maior previsibilidade sobre o risco de inadimplência.
Tecnologia e Previsão de Risco Podem Diminuir Pedidos
O levantamento também destaca o uso de tecnologias preditivas que ajudam a identificar perfis de proprietários rurais com risco de inadimplência antes mesmo que os problemas financeiros se agravem. Soluções especializadas para o setor agrícola avaliam e preveem o risco de inadimplência entre proprietários rurais, oferecendo dados valiosos para credores e financiadores.
Com o monitoramento de dados, é possível identificar, com meses de antecedência, aqueles produtores que apresentam sinais de instabilidade financeira, permitindo que os credores tomem decisões mais seguras quanto à concessão de crédito. Esse recurso evita que a recuperação judicial seja utilizada como uma última opção, promovendo ações proativas que reduzem o número de solicitações.
Os dados também mostram que a média de pontuação de crédito de proprietários rurais que recorreram à recuperação judicial era menor do que a média geral da população rural três anos antes dos pedidos. Isso indica que esses produtores já apresentavam sinais de fragilidade econômica, e o monitoramento adequado poderia ter mitigado o risco, beneficiando tanto os credores quanto os próprios proprietários.
Mato Grosso Lidera Pedidos de Recuperação Judicial
O levantamento revela que, geograficamente, o estado do Mato Grosso concentrou o maior número de pedidos de recuperação judicial no primeiro trimestre de 2024, com um total de 53 solicitações. O Centro-Oeste, região em destaque no agronegócio brasileiro, lidera esse aumento nas demandas por recuperação judicial, com Goiás seguindo logo atrás, registrando 16 pedidos.
A concentração de solicitações em estados como Mato Grosso, principal estado produtor de grãos e carne no país, chama a atenção para a importância de medidas de apoio financeiro voltadas para essas áreas. A crescente demanda por recuperação judicial entre produtores rurais de estados estratégicos pode ser um indicativo de que oscilações nos preços e custos de insumos, aliadas a possíveis dificuldades no acesso a crédito, estão impactando negativamente as operações de muitos produtores.
Perfil dos Proprietários que Demandaram Recuperação Judicial
Outro ponto relevante apontado pelo estudo é o perfil dos produtores rurais que recorreram à recuperação judicial. Pequenos proprietários foram os que menos utilizaram esse recurso no primeiro trimestre deste ano, com apenas 21 solicitações registradas. Em contraste, produtores considerados arrendatários e grupos econômicos ou familiares relacionados ao setor agropecuário, mas sem propriedades próprias, apresentaram o maior volume de solicitações, totalizando 39 requisições.
Essa distinção entre perfis de proprietários rurais reforça a ideia de que o impacto financeiro sobre o agronegócio é desigual, afetando com maior intensidade aqueles que possuem vínculos mais voláteis com a terra e que, portanto, têm menos garantias. Além disso, houve um aumento notável no número de pedidos entre proprietários de médio porte, que passaram de zero solicitações no primeiro trimestre de 2023 para 22 neste ano.
Metodologia do Levantamento
O estudo foi construído com base nas estatísticas de processos de recuperação judicial no setor agro, registradas mensalmente na base de dados da companhia responsável pelo levantamento e complementadas com informações de tribunais de justiça em todos os estados brasileiros. O levantamento considerou exclusivamente proprietários e produtores rurais atuando como pessoas físicas, que têm direito a pedir recuperação judicial com base na Lei 14.112 de 2020, que estendeu essa possibilidade aos produtores rurais.
O aumento de 523% nos pedidos de recuperação judicial entre produtores rurais no primeiro trimestre de 2024 é um alerta para a importância de práticas de planejamento financeiro e monitoramento de crédito no setor agropecuário. Com o uso de tecnologias preditivas, é possível prever riscos e evitar o uso do recurso da recuperação judicial, garantindo a estabilidade financeira dos produtores e reduzindo o risco de inadimplência para os credores.
Embora o número de pedidos esteja longe de configurar uma crise, o estudo reflete um cenário que merece atenção para evitar que produtores rurais enfrentem dificuldades financeiras extremas.