Nos primeiros 15 dias de outubro, o preço da arroba do boi gordo atingiu R$ 310 à vista em São Paulo, segundo dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea). Esse valor já desconta o Funrural e reflete um aumento de 9,1% somente em outubro. Em uma comparação com o mesmo período de 2023, o incremento ultrapassa os 20%, consolidando um movimento de alta que vem desde o mês de julho. Esse cenário positivo gera expectativas tanto para pecuaristas quanto para o mercado interno e externo, além de levantar questões sobre o futuro do setor de carne bovina no Brasil.
O que impulsiona a alta dos preços do boi gordo?
Segundo Hyberville Neto, diretor da HN Agro, o bom desempenho no escoamento da carne bovina, tanto no mercado interno quanto no internacional, é um dos principais fatores que têm sustentado a elevação dos preços. “A partir de julho, o mercado tem subido. No início do movimento, foi uma puxada maior do consumo, tanto no escoamento internacional quanto no doméstico”, explica Hyberville. Esse crescimento está diretamente relacionado à recuperação da demanda interna, favorecida por uma taxa de desemprego mais baixa, o que mantém o consumo de carne bovina em níveis elevados no curto prazo.
Além do cenário interno, a demanda externa, especialmente da China, tem desempenhado um papel crucial na alta dos preços. “Em setembro, tivemos o maior volume exportado da história e, em outubro, com dados parciais, estamos com a maior média diária da história”, aponta Hyberville. Se esse ritmo for mantido até o final do mês, é possível que o Brasil quebre mais um recorde de exportações. A China, principal compradora de carne bovina brasileira, continua a absorver grandes volumes, o que fortalece ainda mais o mercado nacional.
Perspectivas para o mercado de boi gordo até o final do ano
Com o bom desempenho das exportações e o mercado interno firme, as expectativas são de que o mercado de boi gordo se mantenha aquecido até o final de 2024. Hyberville Neto acredita que, embora haja espaço para alguma acomodação nos preços, uma queda drástica não deve ocorrer. “O mercado não deve voltar aos patamares anteriores, mas alguma acomodação nesses próximos meses não seria algo fora da curva”, afirma o especialista.
Essa leve acomodação seria natural, uma vez que o ciclo de alta já dura alguns meses e a oferta de animais tende a continuar restrita. Mesmo assim, os fundamentos do mercado continuam sólidos, com as exportações em alta e a demanda interna se mantendo estável. “Com a oferta restrita e as exportações em alta, os fundamentos continuam favoráveis para um mercado firme”, conclui Hyberville.
Impactos na indústria frigorífica e recomendações para os pecuaristas
Apesar do cenário de alta nos preços, nem todos os elos da cadeia produtiva têm se beneficiado igualmente. A margem dos frigoríficos, por exemplo, tem sofrido com o aumento dos custos. “A margem da indústria caiu, pois o preço no atacado subiu um pouco menos do que o boi gordo”, explica Hyberville. No entanto, ele pondera que, mesmo com essa queda, “a margem ainda está num patamar historicamente positivo”, o que sinaliza que a indústria ainda consegue operar de forma lucrativa, embora com desafios crescentes.
Para os pecuaristas, o momento exige cautela e planejamento. Hyberville Neto sugere que os produtores, especialmente aqueles que possuem gado em confinamento, considerem garantir um preço mínimo de venda para evitar surpresas no mercado. “Agora não é hora de travar preço fixo, porque o mercado está positivo, mas alguma acomodação pode acontecer”, orienta. Essa estratégia de proteção de preço pode ser crucial, especialmente para quem trabalha com datas definidas de abate, uma vez que o mercado pode passar por pequenas correções até o final do ano.
Outro fator importante a ser considerado pelos pecuaristas é a oferta de fêmeas no abate, que tem diminuído, o que impacta diretamente o ciclo de produção. “Nós ainda estamos vendo um volume de oferta elevado, mas isso deve mudar em breve, com a redução da participação de fêmeas nos abates”, explica Hyberville. Essa redução da oferta deve manter o mercado firme, ao mesmo tempo em que a valorização dos bezerros indica um ciclo pecuário mais positivo nos próximos meses.
A alta no preço da arroba do boi gordo, que já atingiu R$ 310 em São Paulo, reflete uma combinação de fatores, como o bom escoamento no mercado interno, a forte demanda externa e a oferta restrita de animais. As exportações recordes, impulsionadas principalmente pela China, têm desempenhado um papel decisivo nesse cenário. Embora exista a possibilidade de alguma acomodação nos preços, o mercado deve se manter firme até o final do ano. Para os pecuaristas, o momento exige atenção e estratégias de proteção de preço, enquanto a indústria frigorífica enfrenta o desafio de operar com margens mais apertadas. O cenário para o mercado de carne bovina é promissor, com a expectativa de que o ciclo pecuário entre em uma fase mais positiva nos próximos meses.