O mercado de café no Brasil está vivendo um momento de grande volatilidade e valorização, com o preço da saca atingindo níveis recordes. Em setembro de 2024, o café foi vendido a R$ 1.600 por saca, o maior valor já registrado na série histórica da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), que monitora os preços desde 1997. Esse aumento acentuado no valor do café está sendo impulsionado por uma combinação de fatores como a redução na safra, condições climáticas adversas e instabilidades no mercado internacional.
Alta no Preço do Café: Contexto e Causas
O aumento do preço do café pode ser atribuído a diversas razões, sendo uma das principais a safra menor em 2024. Apesar de ser um ano de bienalidade positiva – em que historicamente a produção de café tende a ser maior – as condições climáticas desfavoráveis impactaram negativamente o cultivo. A seca prolongada e temperaturas extremas afetaram regiões produtoras importantes como Sul de Minas, Cerrado Mineiro e Montanhas de Minas, resultando em menor produtividade e grãos de qualidade inferior.
Segundo Ana Carolina Gomes, analista de agronegócios do Sistema Faemg Senar, os produtores enfrentaram abortamento de flores, maior incidência de pragas e desfolha, o que impactou diretamente a quantidade e a qualidade da produção. "Os custos elevados na base de produção são repassados ao consumidor final, o que justifica o aumento constante dos preços", explica Ana Carolina.
Com esses fatores climáticos, a expectativa é que a safra de 2024 sofra uma queda significativa de 23% em Minas Gerais, principal estado produtor de café do Brasil. Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a colheita do país deverá alcançar 54,79 milhões de sacas, uma redução de 0,5% em relação a 2023.
Impacto no Consumo Interno
Para o consumidor brasileiro, essa valorização já é perceptível. Em agosto de 2024, o quilo do café chegou a custar, em média, R$ 39,63 no varejo, de acordo com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Esse é o valor mais alto já registrado pela Abic desde o início da série histórica em 1997. Para se ter uma ideia da magnitude dessa elevação, em janeiro de 2021, o quilo do café custava R$ 15,37, o que representa uma elevação de 157% em apenas três anos e meio. No último ano, o preço do café moído subiu 16,6%, uma variação muito superior à inflação geral do país, que foi de 4,2%.
Celírio Inácio da Silva, diretor executivo da Abic, prevê que esse cenário de preços elevados se mantenha até, pelo menos, o primeiro semestre de 2025. “Não vejo possibilidade de queda de preço até o primeiro semestre de 2025. O que deverá acontecer, na verdade, é um aumento", afirmou o diretor.
Mercado Internacional Volátil
No mercado internacional, os preços futuros do café continuam a mostrar grande volatilidade, influenciados por fatores climáticos e pelas condições de oferta e demanda globais. Em setembro de 2024, o café arábica, negociado na bolsa de Nova York, registrou alta de 130 pontos, atingindo 269,10 cents/lbp no contrato de dezembro. Já o robusta, negociado em Londres, teve valorização de US$ 134, fechando o dia cotado a US$ 5.446 por tonelada.
De acordo com especialistas da Hedgepoint, a oferta global de café está em níveis historicamente baixos, o que aumenta a sensibilidade do mercado a qualquer interrupção na produção. "O clima adverso nas principais regiões produtoras pode reduzir ainda mais a oferta, o que dá suporte aos preços futuros", destaca um relatório da consultoria.
Além disso, a movimentação cambial também contribui para essa alta. Com o real valorizado frente ao dólar, as exportações de café se tornam mais lucrativas, o que impacta o mercado interno.
Expectativas para o Futuro
Para os próximos meses, as projeções indicam que o preço do café deverá continuar pressionado, tanto para produtores quanto para consumidores. O mercado físico brasileiro já reflete essa tendência de alta. Em setembro, o café arábica tipo 6 registrou um aumento de 7,64% no Rio Grande do Sul, sendo cotado a R$ 1.550,00 por saca. Já o café Cereja Descascado teve alta de 0,62% em Poços de Caldas/MG, atingindo R$ 1.620,00 por saca.
Pesquisadores do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) explicam que as previsões de chuvas para as principais áreas produtoras de café do Brasil podem trazer algum alívio para a oferta, mas ressaltam que os preços continuarão em níveis elevados no curto prazo, especialmente para o robusta, cuja oferta global é limitada. O Vietnã, principal exportador de robusta, também enfrenta dificuldades na produção, o que mantém a pressão sobre os preços.
O aumento recorde no preço do café é resultado de uma série de fatores complexos, incluindo condições climáticas adversas, instabilidades no mercado internacional e a redução na oferta global. Enquanto os consumidores sentem o impacto no preço final do produto, os produtores enfrentam desafios para manter a produtividade em um cenário climático desfavorável.
A expectativa é de que os preços continuem elevados pelo menos até 2025, com pouca perspectiva de queda no curto prazo. Para os produtores brasileiros, isso pode representar oportunidades de maior lucratividade, enquanto, para os consumidores, o café – uma das bebidas mais apreciadas no país – se torna cada vez mais caro.