A safra de uvas para industrialização no Rio Grande do Sul em 2024 apresentou uma queda significativa de 26,58% em relação a 2023. De acordo com dados divulgados pela Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi), a produção deste ano foi de 485.564.476,63 quilos de uvas viníferas, americanas e híbridas. A redução foi sentida em todas as categorias de uvas, com destaque para a queda expressiva nas viníferas, utilizadas principalmente na produção de vinhos finos.

Essas informações, extraídas do Sistema de Declarações Vinícolas (Sisdevin) e divulgadas pela Divisão de Inspeção de Produtos de Origem Vegetal (Dipov) da Seapi, mostram um cenário preocupante para a viticultura gaúcha. Segundo Fabíola Boscaini Lopes, chefe da Dipov, "o excesso de chuvas na primavera e o surgimento de doenças fúngicas, como o míldio, foram fatores determinantes para essa redução na safra".

Queda na Produção de Uvas Americanas, Híbridas e Viníferas

No comparativo com a safra de 2023, a produção de uvas americanas ou híbridas, amplamente utilizadas para vinhos de mesa e sucos, registrou uma queda de 24,5%. Já as uvas viníferas, base para a elaboração dos vinhos finos, tiveram uma queda ainda mais acentuada de 41,05%.

O clima, especialmente a alta umidade durante a primavera, contribuiu para o aumento da incidência de doenças como o míldio, que afeta gravemente os vinhedos. Este fungo é particularmente agressivo em condições de umidade, atacando tanto as folhas quanto os frutos, o que comprometeu uma parte significativa da produção.

Redução na Elaboração de Vinhos

A safra de 2024 também impactou fortemente a produção de vinhos. Houve uma redução de 42,04% no total de vinhos elaborados em comparação com o ano anterior. A elaboração de vinhos de mesa, feitos a partir de uvas americanas ou híbridas, teve uma queda de 39,55%. No entanto, a produção de vinhos finos, que já vinha sentindo os efeitos da menor oferta de uvas viníferas, sofreu uma retração ainda mais grave, com uma redução de 51,27%.

A redução na produção de vinhos é especialmente preocupante para a indústria vitivinícola do Rio Grande do Sul, já que o estado é responsável por grande parte da produção nacional de vinhos finos, sendo uma referência tanto para o mercado interno quanto externo.

Aumento na Produção de Suco de Uva

Um dado interessante divulgado no relatório foi o aumento significativo na produção de suco de uva. Em 2024, a produção de suco teve um crescimento expressivo de 73,67% em comparação com o ano anterior. Esse aumento pode ser explicado pelo desvio de parte da produção de uvas, que em outras condições seria utilizada para a produção de vinhos, para a fabricação de sucos, uma alternativa mais viável em um cenário de menor qualidade das uvas viníferas.

Por outro lado, o suco de uva concentrado teve uma queda de 43,17%, refletindo um cenário de mercado mais desafiador para esse tipo de produto. O aumento na produção de suco comum, contudo, alivia um pouco o impacto negativo geral no setor.

Elaboração de Espumantes Também Cai

A elaboração de espumantes também sofreu com as adversidades da safra de 2024. A produção de espumantes como um todo caiu 23,12%. As bases charmat e champenoise, duas das principais técnicas utilizadas na produção de espumantes, tiveram uma redução de 39,96% e 41,07%, respectivamente. A produção de espumante moscatel, uma das variedades mais apreciadas no mercado brasileiro, também diminuiu 27,67% em comparação a 2023.

Essa queda acentuada na produção de espumantes reflete não apenas a escassez de uvas de boa qualidade, mas também as condições climáticas adversas que prejudicaram o desenvolvimento ideal das uvas viníferas.

Produtos Orgânicos Sentem Impacto

Os produtos orgânicos não escaparam do impacto negativo na safra de 2024. A produção de sucos orgânicos teve uma redução de 21,44%, enquanto a elaboração de vinhos orgânicos apresentou uma queda ainda mais dramática de 84,95%. Esses números indicam que, além das condições climáticas adversas, as práticas mais restritivas e desafiadoras do cultivo orgânico também enfrentaram dificuldades maiores este ano.

Importância dos Dados Declaratórios

Os dados apresentados sobre a safra de uvas no Rio Grande do Sul são obtidos por meio das declarações feitas pelos próprios estabelecimentos vinícolas no Sisdevin. Segundo Fabíola Boscaini Lopes, "todas as informações do Sisdevin são declaratórias, sob responsabilidade dos estabelecimentos vinícolas registrados no Ministério da Agricultura e cadastrados no sistema".

Esse sistema de declaração é crucial para acompanhar a evolução da produção de uvas e vinhos no estado, permitindo que o setor tenha acesso a informações detalhadas sobre as safras e suas variações, o que auxilia no planejamento e na tomada de decisões.

Perspectivas para o Futuro

Apesar dos desafios enfrentados em 2024, especialistas do setor acreditam que a recuperação das vinícolas gaúchas dependerá de uma combinação de fatores, como a melhoria das condições climáticas e o controle mais eficaz de doenças fúngicas. A viticultura no Rio Grande do Sul, sendo uma das mais tradicionais do Brasil, deverá passar por ajustes para lidar com as mudanças climáticas e sanitárias, garantindo a qualidade e a competitividade dos vinhos e derivados produzidos no estado.

Com a crescente demanda por suco de uva e a recuperação esperada nas próximas safras, o setor vitivinícola deve buscar inovações para se adaptar às novas realidades de mercado e clima.