Uma combinação devastadora de estiagem prolongada, incêndios florestais e pragas está levando a pecuária no Norte do Brasil a uma crise sem precedentes. Em Roraima, mais de 7 mil cabeças de gado já morreram, e a situação agrava-se a cada dia. Segundo o Instituto de Assistência Técnica e Extensão Rural do estado (Iater), mais de 54 mil hectares de pastagens foram destruídos, resultando em um prejuízo estimado de R$ 63 milhões.

Impactos da Estiagem e Incêndios Florestais

A estiagem prolongada e os incêndios florestais são dois dos principais fatores que têm contribuído para a devastação das pastagens em Roraima. A falta de chuvas não apenas diminui a disponibilidade de água, mas também compromete a regeneração natural das pastagens, essenciais para a alimentação do gado. Os incêndios florestais, muitas vezes provocados intencionalmente, agravam ainda mais a situação ao destruir vastas áreas de vegetação.

Proliferação de Pragas: Lagarta Militar e Percevejo-das-Gramíneas

Além das condições climáticas adversas, a região está enfrentando uma grave infestação de pragas. A lagarta militar e o percevejo-das-gramíneas são os principais responsáveis pela destruição das pastagens. A lagarta militar, cujas larvas são depositadas por uma espécie de mariposa, consome a folhagem disponível, enquanto o percevejo-das-gramíneas, um inseto sugador, se alimenta da seiva das plantas, principais fontes de forragem para o gado.

Daniel Schurt, pesquisador da Embrapa Roraima, aponta que a forte estiagem e as queimadas podem ter reduzido a população de inimigos naturais dessas pragas, como insetos, sapos, rãs, morcegos, passarinhos e libélulas. A ausência desses predadores naturais facilita a proliferação descontrolada das pragas, aumentando ainda mais o impacto negativo na pecuária local.

Consequências Econômicas e Sociais

A devastação das pastagens não afeta apenas a produção de carne e leite, mas também compromete o sustento das famílias rurais, especialmente os pequenos produtores. A falta de forragem adequada para o gado resulta em uma queda significativa na produção, impactando diretamente a economia local e o bem-estar das comunidades que dependem da pecuária para sobreviver.

Medidas Emergenciais do Governo

Em resposta à crise, o governo de Roraima publicou um decreto emergencial de apoio à pecuária familiar na última quinzena de junho. O decreto prevê um investimento de até R$ 1.750 por hectare perdido, destinado à recuperação das pastagens e ao suporte aos pecuaristas. O teto para receber o auxílio é de cinco hectares por produtor, e outras ações de apoio incluem fornecimento de água para consumo humano e animal, apoio técnico para a recuperação de pastagens e renegociação de dívidas dos produtores rurais afetados.

Para ter acesso ao benefício emergencial, é necessário que o produtor rural tenha um diagnóstico do Iater que comprove o prejuízo. O engenheiro agrônomo da Embrapa reforça a importância de os produtores buscarem capacitação para garantir o alimento do gado durante os períodos de estiagem.

Capacitação e Tecnificação da Pecuária

Mesmo com a pastagem recuperada, é crucial que os pecuaristas invistam em capacitação e tecnificação para enfrentar os desafios futuros. "O pecuarista hoje deve ver o que tem de técnica, ver com o vizinho, ver o que ele pode fazer e, claro, o Estado dá o suporte que é a assistência técnica, de financiamento para rodar toda essa propriedade porque muitas vezes ele não tem condições financeiras também pra adquirir estes insumos e assim conseguir fazer uma pecuária mais tecnificada", destaca o engenheiro agrônomo da Embrapa.

Para apoiar os pecuaristas nessa jornada, a Embrapa disponibiliza dezenas de cursos gratuitos no site da instituição e no aplicativo e-Campo. Esses recursos são fundamentais para promover a sustentabilidade e a resiliência do agronegócio na região, capacitando os produtores a adotarem práticas mais eficientes e tecnificadas.

A crise enfrentada pela pecuária em Roraima é um alerta sobre a importância de se investir em tecnologias e práticas sustentáveis que possam mitigar os impactos das condições climáticas adversas e das pragas. A união de esforços entre governo, instituições de pesquisa e produtores rurais é essencial para superar os desafios atuais e garantir um futuro mais promissor para a pecuária no Norte do Brasil.