Estudo conclui que Brasil pode aumentar produção de soja em 36% até 2035.
Se as tendências atuais de produção de soja seguirem como estão, o Brasil converterá cerca de 5,7 milhões de hectares de florestas e cerrado em lavoura nos próximos 15 anos. Tal atividade poderia levar ao incremento de 1,955 milhões de toneladas de CO2 lançados na atmosfera.
Conclusão do estudo Protecting the Amazon Forest and reducing global warming via agricultural intensification, a pesquisa visa a mostrar como é necessário produzir mais soja para garantir a segurança alimentar mundial sem comprometer o futuro dos principais biomas brasileiros. O documento indica que intensificar o cultivo da oleaginosa poderia ajudar os agricultores a melhorar a produtividade sem ter que reverter mais áreas verdes em terras agrícolas.
Para intensificar a produção nos hectares existentes, pesquisadores indicam que o país poderia aumentar a sua produção anual de soja em 36% até 2035, reduzindo simultaneamente as emissões de gases do efeito estufa em 58% em comparação com os índices de hoje. Para isso, a pesquisa sugere três inciativas fundamentais:
- Criar mais gado em pastagens menores, liberando mais terra para a soja;
- Cultivar uma segunda safra de milho nos campos de soja em determinadas áreas;
- Aumentar significativamente os rendimentos das culturas de soja.
A pandemia de Covid-19, somada à guerra na Ucrânia, trouxe duas consequências que podem ter impactos expressivos nos países em desenvolvimento e que dependem de cultura de produtos de base como principal fonte de rendimento: uma é o aumento dos preços dos produtos agrícolas, que quase dobraram em comparação com os níveis pré pandêmicos; e o outro é um forte desejo dos governos nacionais de recuperarem rapidamente sua economia.
Estes eventos são de extrema importância nos países em desenvolvimento com vastas extensões de terra adequadas para agricultura que atualmente são cobertas com ecossistemas frágeis, como florestas tropicais e cerrados, pois podem desencadear uma conversão maciça da terra em um período relativamente curto, levando a perda de biodiversidade e aquecimento global.
O Brasil contempla toda a complexidade do aumento da demanda por alimentos e obrigação em proteger seus biomas, com uma das maiores reservas de biodiversidade do mundo, com 516 milhões de hectares de florestas e cerrado. De especial relevância são as vastas florestas tropicais na Amazônia, somando 330mi/ha. Ao mesmo tempo, é o principal país exportador de soja, detendo 40% das exportações globais em 2017-2019.
A soja, durante o final dos anos 1990 e início de 2000, provocou um desmatamento maciço, mas nos anos seguintes (2005-2015), o Brasil fez progressos tangíveis na redução das taxas de desmatamento por meio de moratórias e programas de incentivo financiados por países estrangeiros.
Mas será que estas medidas serão, por si só, suficientes para impedir a conversão de ecossistemas frágeis num contexto de preços elevados dos cereais e governos que procuram o crescimento econômico a partir do incremento da produção agrícola?